(Google Imagens)
O
garotinho de dez anos foi à praia com os seus pais. Sua mãe estava grávida, e
todos estavam muito felizes. Enquanto ele passeava pela parte rasa do mar, uma
onda passou por seus pés e ele sentiu algo bater em seu tornozelo. Agachou-se
para ver o que era, e percebeu ser uma concha. Não uma comum, daquelas que
encontramos sempre em praias, mas uma diferente. Ele sempre ouvira falar
daquele tipo de concha, mas nunca havia visto alguma igual àquela, ao menos não
pessoalmente.
Era
uma concha grande, do tamanho da sua mão, e com várias câmaras. Alongava-se em
espiral, terminando numa câmara pequenina. Percebendo que a concha estava
vazia, pegou-a para si e voltou ao lugar onde seus pais estavam.
Depois
de um tempo, voltaram para casa. O pai disse ao filho que, se colocasse aquela
concha em seu ouvido, poderia ouvir o barulho do mar. O menino então colocou a
concha em seu ouvido. Encantou-se com ela, e daí para frente passara a ouvi-la
sempre.
Depois
de tê-la levado para casa, praticamente cresceu ouvindo esta concha. Com o
tempo, conforme ele crescia, ouvia-a cada vez mais. Sempre que se sentia
triste, sozinho, angustiado ou irritado, deitava-se em sua cama e punha a
concha em seu ouvido, escutando o mar. Ouvindo suas ondas quebrando
ruidosamente na areia. Até que, num destes dias, já mais velho, ele ouviu algo
além do mar. Uma voz feminina. Inicialmente, claro, assustou-se, mas logo se
acostumou com ela. Na verdade, se apaixonou por ela. Era bela. E não
falava, mas cantava. Cantava lindamente, os cânticos mais sublimes que ele já
havia ouvido, com a voz mais agradável já conhecida por ele; suave e melódica,
o levava a lugares desconhecidos. Rapidamente ele tornou-se obcecado.
Trancava-se em seu quarto e passava horas e horas lá dentro, deitado em sua
cama, apenas ouvindo a voz cantar para ele. Não era sempre que ela cantava, mas
quando parava, ele implorava para que ela voltasse a cantar. Com frequência o
seu pedido era atendido, quase sempre. Até que, certa vez, a voz silenciou
completamente. Nada que ele dissesse fazia a voz voltar a cantar novamente,
somente o som das ondas sobre a areia. Ocasionalmente, o vento soprando mais
forte.
Enlouquecido
sem a bela voz e seus cânticos, ele saiu de casa e correu o mais rápido que
pôde até a praia onde havia achado a concha quando criança, ignorando qualquer
um que pedisse para ele não ir e, principalmente, os pedidos do seu irmão mais
novo. Sim, ele já havia nascido, e tinha quatro anos. E acreditava em sereias,
ao contrário de seu irmão mais velho. Ao chegar à praia, percebeu nunca mais
ter voltado para lá depois daquele dia. Com a concha em seu ouvido, olhou para
o oceano escutando o som que vinha do objeto em suas mãos. A voz não aparecia
mais, ele não conseguia escutá-la. Então, ele correu para as ondas e parou ao
sentir a água fria tocar os seus pés. Gritou ao mar pela voz, pediu por ela, e
perguntou por que não aparecia mais. Afinal, o que ele havia feito de errado?
Correu
até as águas chegarem à sua cintura, as ondas quebrando em seu peito. Gritou e
gritou, a concha ainda em suas mãos. Levou-a ao seu ouvido, e pôde escutá-la.
Sim, ele a ouviu, mas a voz não vinha da concha. Era real, vinha das ondas mais
ao longe. Ele inspirou longamente o ar, e mergulhou. Nadou o mais longe e
rápido que podia, sem voltar à superfície para respirar. Ele ainda escutava a
voz cantando debaixo d’água. Sem ar em seus pulmões, ele ignorou seu instinto
de respirar e continuou a nadar cada vez mais longe. As correntes do mar
ajudavam, empurrando-o para o seu interior. Até que, sem aguentar mais, ele inspirou;
ainda debaixo d’água. Inspirou desesperadamente à procura de ar, mas tudo o que
entrou em seus pulmões foi água salgada. Sufocante. Embora estivesse gelada,
desceu ardentemente pela sua traqueia e inundou os seus pulmões. Ele tentou
nadar até a superfície, procurando por ar, mas não conseguia. Estava se
afogando.
Dizem
que, depois do momento torturante em que a água invade os seus pulmões, ela
toma conta do seu ser e um momento de calma, paz e tranquilidade o invade.
Quase como se você fizesse parte dela; como se você fosse feito de água e
estivesse em casa; foi isso o que lhe aconteceu.
Depois
da dor, a paz. Uma paz enorme o invadiu, de espírito e de consciência. Por um
instante ele havia se esquecido da voz, mas seus cânticos ecoavam agora através
das águas. Ela não cantava em seus ouvidos, mas sim em sua mente. Ele sentiu
como se não precisasse mais respirar, e pensou que fosse feito unicamente de
água. Sentiu-se parte dela. Subitamente, ele viu uma forma escura surgindo ao
longe, além das águas mais próximas. Ela nadava graciosamente, e conforme ela
se aproximava, a voz aumentava de intensidade. Percebeu, então, o que via
quando sua silhueta ficou visível.
Uma
Dama da Água, de longos cabelos negros como a meia-noite sem estrelas, esvoaçantes
em torno de seu corpo. Estava nua da cintura para cima, a pele branca como a
lua, os seios expostos, redondos, e a cintura fina. Delicadas mãos ajudavam-na
a se movimentar graciosamente pela água, mas o que a impulsionava era a
comprida cauda de escamas prateadas que substituía suas pernas.
Era
uma sereia, uma linda sereia, como as das histórias que seu irmão inventava.
Ela
se aproximou e, colocando a mão no peito do rapaz, sussurrou em seus ouvidos. Não,
querido, você não fez nada de errado. Isso o acalmou. Eu só precisava
vê-lo, vê-lo além de seus sonhos... Precisava levá-lo comigo. Ele sorriu, e
ela também. A sereia passou seus braços ao redor do pescoço do rapaz,
aproximando seus lábios vermelhos e carnudos dos dele.
Venha
comigo. Ouça-me cantar, para sempre. Olhe para mim, sempre que desejar, e
encante-se com a beleza de onde eu habito. Ela se afastou, pegou-o pela mão,
e começou a empurrá-lo em sua direção, balançando levemente a cauda, emanando
reflexos prateados na face do rapaz, levando-o para mais fundo. Venha!
Ele
não se opôs. Seguiu-a, deixando-a levá-lo para onde ela quisesse. Desde que
pudesse ouvi-la, vê-la, estaria feliz. Era tudo o que ele mais queria em sua
vida.
Começou,
então, a desesperar-se. Percebeu que o mundo ao seu redor escurecia e que sua
consciência esvaía-se. Estava morrendo, já passara tempo demais embaixo d’água.
Ele não era metade peixe, como ela. Não sobreviveria. Notando
o desespero do rapaz, ela o puxou para si e o abraçou, pressionando seu corpo
contra o dele. Ela cantou em seu ouvido.
Na
escuridão, você encontrará a sua luz. Acalme-se, poeta, e veja seus sonhos
tornarem-se realidade, porque a luz brilhará enquanto você estiver comigo. Sua
mente escurecerá, mas sua alma, para sempre, ficará...
Sua
voz o acalmou, e ele quis uma última vez olhá-la. Ela compreendeu sem a
necessidade de comunicação, e deixou-o se afastar.
Antes
de a escuridão dominar por completo a sua mente, sua última visão foi a daquele
ser horrível. Os cabelos eram longas algas verde-escuras que se entrelaçavam a
ele, prendendo o seu corpo firmemente. O corpo da Dama estava verde e escamoso
como a aparência que a cauda tomara. Tentáculos gigantes saíam de suas costas e
o envolviam fortemente. O rosto antes belo era agora algo deformado e sem
proporção. Os olhos, duas esferas negras e opacas, olhando-o sem sentimento
algum. O ser não tinha nariz, e a boca, os mesmos lábios carnudos, mas muito
maiores e de tonalidade azulada, com bolhas horríveis e uma textura esponjosa.
Aquilo sorriu, revelando fileiras de dentes pontiagudos como os de tubarões.
Aquilo
cantou um último verso, a voz agora estridente e lamuriosa.
Mas
sua alma, para sempre, ficará...
A
concha ainda estava em sua mão. Ele a soltou, e ela caiu nas profundezas
escuras daquele mar misterioso e sombrio.
---
Um
menininho de apenas oito anos passeava pela areia da praia quando notou algo
que lhe tinha sido trazido graciosamente pelas ondas do mar. Ele se aproximou
para ver o que era e, ao descobrir, pegou o lindo objeto para si.
Voltou
feliz para o lugar onde estavam os seus pais e, depois de um tempo, foram
embora. No carro, voltando para casa, o menininho pegou o objeto que estava em
suas mãos e o levou ao seu ouvido. Encantou-se ao descobrir que podia ouvir o
mar nele, as ondas roçando levemente pela areia branca da praia e o vento
soprando nas águas.
Ah,
e ele acreditava em sereias. Diferentemente de seu enlouquecido irmão mais
velho, desaparecido há três anos.
Escrito por: Milena Câmara
De: Não Entre Aqui
Casino Review for USA Players: Bonuses, Payments
ResponderExcluirCasino 순천 출장안마 Review for USA Players: Bonuses, 부천 출장마사지 Payments, and Security All 이천 출장안마 bonus codes will be available once a player is 경기도 출장마사지 approved, but they can 천안 출장샵 be used for cash