Geralmente as pessoas não entendem o que um lar realmente é. Eles veem como um lugar estático, uma casa ou um apartamento. É um engano comum. Quatro paredes não proporcionam segurança absoluta das coisas que vagam a noite. A proteção que os lares nos dão não é baseado na estrutura de propriedades ou barreiras físicas, mas em sentimentos. Se você achar que está seguro, estará seguro. E se não achar?
Pense em dois cenários diferentes.
No primeiro você está deitado(a) confortavelmente em sua cama. Seus pais estão dormindo no quarto que fica logo no final do corredor. Talvez você tenha algum irmão ou irmã por perto. Seu amável animalzinho de estimação dorme calmamente ao seu lado. Se você gritar pedindo socorro, seu pai virá correndo imediatamente, nas mãos um taco de beisebol.
No segundo, você está em casa sem ninguém, deitado(a) na cama, no escuro. Se gritar, ninguém virá correndo para te ajudar. Talvez consiga contatar a polícia com seu celular, mas eles ainda demorariam quinze minutos para chegar em sua casa e, sendo assim, quinze minutos tarde demais.
Se você achar que está seguro, terá um efeito protetor. É como se isso criasse um escudo ou bolha em volta de você. Não sei exatamente como funciona, mas talvez as coisas que ficam a nossa espreita não gostem de positividade. Se você se sentir seguro com seus amigos em casa, estarão todos são e salvo. Pode até se sentir seguro enquanto volta para casa bêbado e cambaleando, o que é obviamente perigoso, mas estará protegido. Talvez você não contra predadores humanos. Quando lidamos com pessoas, que podem caçar até na luz do dia, precaução é essencial. Mas há coisas que não entendemos muito bem que são atraídas pelo medo. Para eles, isso é um convite. Uma porta aberta.
Para explicar melhor, vou contar a história de quando o meu escudo falhou.
Me lembro vividamente, foi em Outubro do ano passado. Foi o primeiro ano que eu começaria a estudar com um grupo de pessoas totalmente diferente do que eu estava acostumada. Uma conhecida minha me convidou para a festa de 21 anos de um amigo dela em um bar com Karaokê. Cheguei no local por volta das 22 horas, ficava a quarenta minutos de casa. Não consegui reconhecer ninguém quando entrei. A conhecida me deixou de lado, e passei mais ou menos uma hora e meia tentando me enturmar. O grupo de amigos estava rindo e bebendo, enquanto eu ficava meio de fora. Fiquei constrangida e um tanto triste, então decidi ir embora mais cedo.
Comecei a dirigir para casa e duas coisas aconteceram: Primeiro, fiquei ouvindo músicas deprimentes, o que me deixou mentalmente solitária. Segundo, notei que estava ficando sem gasolina.
Eu sabia que ainda tinha bastante estrada pela frente, então decidi fazer uma parada. Estacionei em um posto de gasolina que estava sem movimento nenum, apenas com um funcionário limpando as máquinas de café dentro da lojinha. Era perto de um rio e de costas para três acres de bosques Sai do carro e comecei o processo de encher o tanque. Nesse momento, lembrei de uma história que minha mãe havia me contado, que uma ex-colega de trabalho havia contado para ela. O marido dessa mulher havia sido assassinado com disparos de arma de fogo enquanto enchia sozinho o tanque do seu carro durante a noite. Me senti isolada, sem amigos ou parentes. Fiquei insegura.
Terminei de abastecer. Eu estava tremula e cansada, então entrei na lojinha para comprar uma Coca-Cola e uma barra de chocolate. Não lembro de ter trocado uma palavra com o atendente, estava tão perdida em meus pensamentos. Saí para rua e tinha um homem parado perto do meu carro, olhando para dentro do veículo pelas janelas.
Senti o sangue em minhas veias congelando quando o vi. Pensei no tiroteio. Imprudente, enterrei dentro de mim o mal pressentimento. "Posso ajudar?" Perguntei.
Ele se virou e olhou em minha direção. Em termo de aparência, parecia um cara bem normal. Quase que familiar. Usava roupas que você espera ver em um esteriótipo de lenhador; calças jeans, camisa xadrez, esse tipo de coisa. Se fosse em qualquer outro contexto, talvez eu o achasse atraente. Sorriu para mim. "Você está sozinha." Era uma afirmação, não uma pergunta. Falou em um tom de voz quase sedutor, tipo quando você está tentando convencer um gato de sair de debaixo da cama para levá-lo ao veterinário.
"Não, meu namorado está na loja." Menti. "Estou esperando ele sair do trabalho".
"Sair do trabalho" o cara falou, com o mesmo tom de voz. Por um segundo, seus olhos reviraram para trás,como se estivesse em sono REM. "Você está o esperando?"
"Sim." respondi.
Deu um passo em minha direção. Notei como os braços deles eram longos comparados ao resto do corpo. Pareciam até passar dos joelhos.
"Ele está ali dentro", repeti.
"Você está sozinha," o homem disse, com uma leve risada. Seus olhos estavam grudados nos meus. Ele não estava me olhando como uma pessoa normal olha para outra. Não consigo descrever exatamente como era. Não era raiva, nem mesmo luxúria. Era de uma fome descomunal. Como se estivesse passando fome a muito tempo. O rosto estava muito angular, muito longo.
"Não estou sozinha. Sai de perto de mim!" Falei, minha voz não passou de um guincho. Não soou tão imperativa quanto eu esperava.
O homem começou a franzir seu cenho de um jeito que o fez parecer um personagem de desenho animado. Era como se os olhos se alongassem junto da face... é difícil de explicar. "Sai de peeeeeeertoo...", disse, como se a voz estivesse em slow motion. Na verdade ouvi duas vozes, como se tivesse dois dele, mas a outra parecia estar sussurrando no meu ouvido.
Eu fiz o que acho que qualquer um faria. Derrubei tudo no chão, virei de costas e corri direto para dentro da lojinha. Gritei para o atendente, "Ligue para a polícia agora, por favor, tem um cara lá fora me assediando!"
O atendente e eu nos viramos e olhamos em direção do me carro. O cara ainda estava lá. Acenou para mim, o rosto ainda daquele jeito. Meu coração começou a martelar no meu peito quando ele começou a se mover. Ainda me olhando direto nos olhos, esticou seu braço horrivelmente longo e abriu a porta do meu carro. Entrou no banco traseiro e ficou com as pernas dobradas para cima, como se fosse uma criancinha querendo um passeio de carro.
"Ligue para a polícia," pedi novamente.
"Eles não vão vir." O atendente suspirou. "Eles não podem te ajudar, mesmo se viessem."
"Por que não?"
"Eles não podem." O atendente andou até a janela da loja, olhando para o carro. A coisa olhou de volta para ele. Consegui ver um misto de ódio e ressentimento em sua expressão. "Eles não virão e não poderão te ajudar."
"Então o que eu faço?"
Ele se virou para mim. "Você está sozinha?"
Eu hesitei. "Sim."
"Não faça mais isso. Nunca mais. Eles virão. São como tubarões que se atraem com o sangue na água."
"O que ele quer?"
O atendente desviou os olhos de mim. "Não saia mais sozinha. E se sair, sinta-se segura. Saiba que está segura. Isso é tudo que pode fazer."
Olhei de volta para o meu carro. A porta estava aberta. Não havia sinal do homem.
"Você está segura?" o atendente me perguntou.
"Essas portas estão trancadas?" Perguntei de volta. Imaginei o homem invadindo a lojinha. Imaginei aqueles braços longos me envolvendo e –
"Você está segura?" o atendente perguntou novamente.
Desta vez não me arrepiei de medo. Respirei fundo e me desprendi de todo medo e solidão que sentia. Já sabia o que responder. Foi como se uma luz se acendesse dentro de mim. "Sim."
"Que bom."
Naquela noite andei até meu carro com a certeza que estava segura. Existem poucas coisas nas quais posso ter certeza, mas aquela era uma delas. Enquanto eu arrancava dali, o homem alto foi iluminado pelos meus faróis, ainda com aquela cara de personagem animado. Em cada esquina que eu virava, em cada sinaleira que eu passava, ele estava lá. Também estava na minha garagem quando cheguei em casa, ainda me seguindo, ainda esperando.
Mas não tenho medo.
Você tem?
Fonte: Creepypasta Brasil
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