Imagem adaptada LSD
Meu nome é Marta, hoje tenho uma história para contar, achei que não poderia, mas no fim, aqui estou.
Tudo começou naquele final de festa, bebi muito mais que devia e podia, e mesmo assim não estava satisfeita, talvez tenham sido os ácidos que tenham me deixado insaciável, e querendo conhecer coisas novas. Essas coisas podem matar...
Saí em direção a baixada, lugar movimentado, mas só por aqueles que assim como eu, já não dão valor a própria vida, e buscam nas drogas aquilo que parece faltar na vida.
Após alguns quarteirões, a luz começou a ficar escassa e o que se via era o cintilar de isqueiros nos becos escuros formados pelos prédios. Senti medo, pois nunca antes havia ido a pé até ali, e mesmo de carro, nunca fui desacompanhada até esse local. Mas minha fissura era maior que qualquer medo, após mais alguns metros que percorri, senti que estava sendo seguida, um arrepio rápido me mostrou que o efeito do LSD que havia usado estava passando, ou aumentando, sei lá, os efeitos dele nunca são os mesmos em mim.
O medo aumentava a cada momento, aqueles cintilar de isqueiros começaram a parecerem olhos escarlates me vigiando, estava prestes a correr, meu coração estava disparado e o suor que antes era da caminhada começou a ficar frio por conta do pavor. Acelerei meu passo, e para meu desespero percebo que meus passos não são os únicos a acelerar, alguém realmente me seguia.
- Ei patricinha... Espera ai!
Um gelo subiu por minha coluna, e antes de me virar aquela voz continuou a falar:
- O que você está fazendo aqui? Se perdeu? Ou está procurando alguma coisa?
Parei, apesar do susto, aquilo era o que eu procurava, então ainda me virando para ver com quem falava, disse:
- Caralho seu bosta, quer me matar do coração?
- Acho que você está me procurando, não está?
- É você que tem as paradas pra vender?
- Depende, o que você quer?
- Quero ficar louca... Me falaram que por aqui tem um cara que consegue umas paradas novas que são foda pra caralho...
- Então, sou eu sim, pode me chamar de Sand...
- Sand? De Sandman? Se for, que nome foda... Você então dá vida aos sonhos?
- Quer experimentar? Tenho isso aqui...
Neste momento o homem mostra um pacote contendo uma espécie de areia amarela, ele mostra rapidamente e continua a falar:
- Mas será que a patricinha pode pagar e realmente quer usar o “sonos”?
- Quero sim, e tenho dinheiro aqui...
- Tu tem certeza disso? O “sonos” é forte, não aconselho você a ficar na rua quando usa, pois você dorme e acorda, algo parecido com narcolepsia, porém você não sabe o que é sonho e o que é real...
- humm... Isso deve realmente ser bom...
Neste momento eu lhe dei 100 reais, e ele tirou do pacote onde estava aquela areia amarela, dois pacotinhos menores, e assim que me entregou disse:
- Esse pó é mágico, meio pacote e chega...
E assim que terminou de falar, sumiu.
Eu na fissura, olhei para os lados, porém só o que eu via eram uns cães sarnentos saindo de um terreno baldio sob a fraca luz de um poste, então abri um pacotinho, e encostei o meu dedo mínimo e um pouco do “sonos” se grudou nele, então botei meu dedo em minha língua, ela adormeceu no mesmo instante, me empolguei, pois isso em outras paradas quer certificar qualidade.
Corri como nunca havia corrido antes, a vontade de usar era tanta que mal sentia minhas pernas, ao longe avistei algo que parecia um hotel, cheguei mais perto e vi que apesar de ser um pardieiro, poderia usar um quarto por algumas horas. Entrei naquele lugar e um velho careca, gordo e mal encarado estava atrás do balcão, usava uma regata que ha muito tempo já não era branca, levantou e forçou um sorriso com dentes amarelos perguntou:
- Quer se hospedar aqui?
Quase desistindo andei em direção ao balcão, e o que me fez falar, foi olhar para os pacotes que carregava em minha mão:
- Sim, por favor, preciso de um quarto por algum tempo...
- Tudo bem, o quarto 23 está desocupado, ele tá com o chuveiro quebrado...
Nem deixei terminar de falar e confirmei que poderia ser o quarto 23 sim, ele continuou:
- Ok, você que manda... Tem que pagar a diária de R$:50,00 antes de entrar.
Alcancei o dinheiro para ele e já fui indo em direção as escadas e ele ainda falou antes de eu ir:
- A donzela está sozinha? Se precisar de companhia...
Minha cara de nojo deve ter assustado aquele velho nojento, asqueroso. Nesse momento quase desisti, mas olhei para os pacotes e uma empolgação bateu e quando me dei conta já estava de frente à porta do quarto 23, abri, entrei e até fiquei surpresa, pois apesar de ser simples estava tudo bem limpo, quase que imediatamente vi uma poltrona, bati a porta do quarto e pulei na poltrona, abri o pacote, e fechei os olhos...
Um torpor, tudo escuro, aos poucos a visão vai voltando, turva, mas volta, não sinto meu corpo, uma luz brilha acima de mim, sinto medo, frio, minha cabeça dói. Não consigo me mover, sinto medo, muito medo, fecho os olhos...
Abro os olhos novamente, estou de volta a poltrona, sinto um enorme alivio, será que o “sonos” vai dar uma bad trip? Olho para a porta do quarto e só então que percebo que alguém bate na porta, levanto para ver o que é, e averiguar se realmente tranquei a porta, pois vai que aquele velho seboso queira se engraçar, mas ao dar o primeiro passo sinto minhas forças se esvaírem, e caio...
Aquela luz atrapalha minha visão, ouço vozes e risos, um cheiro etílico repugnante está no ar, não entendo porque não consigo mover um músculo, essa agonia de não termos os movimentos que queremos durante os sonhos sempre me irritou, sofri com pesadelos por conta disto, talvez experimentar o sonos não tenha sido uma boa ideia por conta disto. As vozes chegam mais perto, o cheiro aumenta me dando náusea, estou prestes a vomitar, a ânsia causada por aquele cheiro de cachaça barata estava insuportável.
Não consigo evitar e ao vomitar, olho e vejo aquele líquido amarelado e nojento no chão do quarto, sinto um mal estar, pois os sonhos que o “sonos” está causando são horríveis. Tento me levantar, ouço uma voz masculina me chamar por trás da porta do quarto, tento pedir ajuda, mas antes de minha voz sair, as luzes se apagam e eu volto ao chão...
O cheiro de cachaça é insuportável, mas não é a pior coisa que sinto, as vozes estão sobre mim e percebo que são bêbados, que não só conversam, mas planejam alguma coisa, sinto as mãos deles, e elas tocam minhas pernas e meus seios, quero gritar, correr, chorar, fugir, mas não consigo, percebo que estou sendo carregada...
Sinto meu corpo cair no chão duro do quarto do apartamento, as lágrimas escorrem pelo meu rosto, desesperada grito, ouço passos pelo corredor na frente do quarto, peço ajuda, e aquela voz masculina volta à frente da porta, ela pergunta se eu preciso de ajuda, vou responder, mas novamente não consigo segurar o vômito e a resposta não sai, me sinto sufocar, não consigo respirar, a luz aos poucos vão se apagando para meus olhos...
Risos viraram gargalhadas, eu ainda não consigo respirar, algo obstrui minha garganta, e então sinto alguém abrir minhas pernas... NÃO...NÃO...NÃO... Mas não consigo me defender, nem gritar... Quero morrer!...
Abro os olhos e estou caída dentro de uma poça de vomito, mas não é aquilo que me deixa mais enojada... Mesmo em sonho, aquele estupro era traumatizante... Podia sentir um gosto de podre em minha boca, e meu corpo parecia não ter forças, só o que eu consigo é gritar:
- SOCORROOOOOOO!!!!!
Minhas costas doem, como se estivessem esfoladas, sinto que estou nua, deitada em galhos ao que parece. Sinto que fui violentada, e o pior é que ouço vozes e risos se afastando de mim e nada consigo fazer. Choro litros, e rezo para acordar daquela situação.
Ouço batidas na porta, mas não batidas para perguntar se estou ali, mas sim pancadas para arrombar a porta, a porta depois de algumas pancadas se abre, eu sinto que estou salva, que seja lá quem for, vai me ajudar, antes que eu pudesse ver quem arrombou a porta, desfaleço novamente.
Abro os olhos, vejo grandes dentes vindos em minha direção, me assusto, será que aquele sonho podia piorar?
Aquele velho de regata esta me olhando, eu estou deitada no vomito ainda, ele me olha com desprezo e abre a boca para falar... Mas ele late... Confusa eu paro... NÃO... NÃO... NÃO...
Abro os olhos, os dentes ainda estão próximos a meu rosto, mas não para me morder, sinto lambidas no rosto... Ouço um latido... NÃO... NÃO... NÃO...
Mas desta vez caiu à ficha, o hotel não existe, foi sonho... Não pode ser, esses são os cães sarnentos... Eu nem saí do lugar depois que levei meu dedo com o sonos a boca... Estou no terreno baldio... NÃO!... NÃO!... NÃO!...
Pensei em me matar, mas para que acelerar ainda mais o que já está escrito em meu destino, depois desta noite descobri que não vou viver muito mesmo, pois como presente por minha curiosidade e fissura, ganhei um trauma e HIV.
Escrito por: Mário Resmin
De: Não Entre Aqui.
Vish que fita pesada irmão!
ResponderExcluirDo not use drugs, jamais!
Com exceção dos psicodélicos e da verdinha.