Full width home advertisement

Post Page Advertisement [Top]

(Origem da imagem: Google Imagens (Adaptado))

O depoimento que lerão a seguir trata da versão do réu quanto a morte de sua esposa.

***

Tudo começou quando sofri um acidente de trabalho.

Eu trabalhava em uma construção civil e, naquele dia, eu estava em um andaime no terceiro andar. Ventava muito, eu e mais dois colegas fazíamos o reboco, enquanto eu batia a massa o outro reguava e o terceiro desempenava...

Neste momento fiz uma breve pausa me lembrando de tudo o que havia acontecido, de cada detalhe até que a voz do juiz interrompeu meus pensamento me pedindo que continuasse.

Bom, a empresa nunca nos forneceu condições de trabalho realmente seguras e, até então, nunca ficamos realmente preocupados ou com medo de que algum acidente pudesse acontecer, mas aconteceu e foi justamente comigo. 

Um passo em falso e perdi o equilíbrio, cai por um vão que se abiu entre a barra mais alta, na altura da cintura e a média, quase na altura dos joelhos. A barra menor estourou com meu peso, tentei me agarrar, mas a gravidade foi mais forte e eu caí. 

Novamente me peguei em devaneio em meio ao juri, por que agora me dei conta que aquela foi a sensação mais notável que senti em toda minha vida, nunca me senti tão vivo, pude até notar os pássaros voando no céu, lá nas alturas e então...

Quando cai, apaguei com a pancada, acordando somente uma semana depois com traumatismo craniano e alguns ossos quebrados. 

No primeiro dia, eu já pude notar que algo estava diferente. Uma sensação estranha me tomava e eu até podia ouvir minha voz falando dentro de minha cabeça, eu pensava, mas não era como se estivesse pensando, era como se um outro eu falasse para mim. 

Escutei burburinhos vindos do juri, ignorei e continuei.

Durante alguns dias internado, notei algumas vezes uma silhueta em meu quarto a noite quando desligada as luzes e também de dia, quando despercebido, notava um vulto no reflexo da TV. 

Era estranho e questionei o Doutor sobre o que eu estava vendo. Ele pediu que eu ficasse tranquilo pois meu trauma havia sido grande e muito provável que eu estivesse tendo algumas alucinações devido a isto, mas que os medicamentos que eu estava tomando logo aliviariam e cessariam essas alucinações por completo, conforme eu fosse me recuperando do acidente. 

E ele não estava errado. Bom, não totalmente. 

Dias após essa sensação se foi, as alucinações também e, finalmente, veio minha alta. 

Minha esposa cuidaria de mim enquanto me recuperasse, mas isso aconteceu apenas em meus pensamentos e nos primeiros dias em que voltei para casa. Ela parecia cansada com o passar dos dias, pois eu não podia me mover, não podia ajuda-la com nada, não havia ninguém que pudesse dar uma mão pra ela, pois vivemos sozinhos nessa cidade desde que saímos de outro estado para cá em busca de condições melhores de vida. 

Até que comecei a estranhá-la. 

Às vezes seu celular tocava e ela se retirava para atende-lo. Cochichava, falava baixo e me evitava, sempre que eu a questionava. Comecei a desconfiar de sua atitude e essa desconfiança ficou mais forte após eu acordar de madrugada com barulhos na cozinha. Pude ouvir a sua voz e uma outra mais grossa. Sem sombra de dúvidas era outro homem. 

Eu iria chama-la mas optei por não o fazer, eu precisava saber o que realmente estava acontecendo, mas ainda estava debilitado demais para ver com meus próprios olhos, então, tudo o que pude fazer foi escutar, pacientemente e calmamente. 

O silêncio era inacreditável, mas volta e meia era quebrado por sussurros. 

Isso se repetiu por várias vezes, durante várias semanas, mas parou quando eu finalmente estava recuperado o suficiente para caminhar por conta própria. 

Pouco tempo depois eu acordo novamente na madrugada com um ranger de porta. Certamente era a porta da sala sendo aberta. Minha esposa não estava na cama comigo, a luz do banheiro estava apagada. Só podia ser ela. 

Ela e mais alguém. 

Fiquei por alguns instantes na cama até começar a ouvir os sussurros vindos da sala. Me levantei calmamente e deixei a porta entre aberta de meu quarto. Caminhei o corredor e me encostei na entrada para a sala. Apenas a luz da TV iluminava a sala e algo muito mais chocante do que isso. 

Minha esposa transava no sofá com algum outro homem. 

Eu parti para cima dele, puxando-o pelo pescoço e encaixando uma chave de braço, mas eu não estava tão sadio e não pude contê-lo, ele se livrou de mim e quando se virou, revelou a mim quem era, por um instante fiquei confuso com a visão ambígua e então eu simplesmente não pude acreditar. 

Ele era familiar. 

Não, ele era eu. 

O cara era exatamente igual a mim. Tinha até as cicatrizes do acidente. 

Isso era impossível, eu simplesmente não podia acreditar. 

Ele partiu para cima de mim outra vez, mas dessa vez minha esposa gritou algo que não pude entender devido a adrenalina e euforia do momento, eu me esquivei de um golpe, mas ele pegou uma mesinha e desferiu com ela uma pancada que deveria me acertar, mas acertou minha esposa assim que me esquivei. 

No mesmo instante vi seu corpo inerte no chão e ela não se levantou mais. 

Me joguei contra ele e lutamos ferozmente, mas ele me dominou e acertou minha cabeça contra a parede algumas vezes, até que eu perdesse a consciência.

Quando acordei novamente eu estava num lugar muito escuro, não podia enxergar nada, mas tropecei em algo e tive a certeza do que era quando apalpei. 

Karina... minha esposa. 

Ela estava gelada e rígida... naquele instante eu entendi... entrei em desespero, vasculhando tudo ao redor tentando encontrar a mesa a qual guardava uma lanterna e a encontrei, com muita dificuldade. Quando acendi a lanterna ela me revelou Karina morta no chão, ainda nua e uma imensa parede de tijolos onde deveria haver uma porta. 

Levei muito tempo para conseguir derrubar aquela parede. Usei de tudo ao meu alcance para poder quebrar aqueles tijolos. Após alguns dias o corpo de Karina começava a feder e o desespero em mim só crescia. 

Quando finalmente a luz atravessou aqueles tijolos e eu os atravessei saindo no corredor onde se via um amontoado de ferramentas ao redor e até um carrinho de massa já endurecido, eu caí no chão exausto, me inclinando na parede. 

E então senhores, os policiais chegaram. 

***

Esse é o depoimento de um rapaz que trancou a esposa no porão após nocauteá-la com uma pancada na cabeça, utilizando a mesinha da sala de estar. 

Segundo os médicos, o homem teve sequelas de seu acidente, resultando num surto psicótico em vestígios de dualidade permanente e não tinha condições psicológicas para conviver em sociedade. 

O mesmo está detido em um hospital psiquiátrico. 

***

Escrito por: Alan Cruz
De: Não Entre Aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O NEA agradece o seu contato, responderemos em breve!

Continue navegando pelo nosso blog e conheça nossas redes sociais
--------
https://www.facebook.com/naoentreaqui.blogspot
-------
https://www.instagram.com/nea.ofc/

Bottom Ad [Post Page]