Pois bem, para quem não me conhece, eu sou um escritor, curioso e que adora ouvir histórias, ainda mais quando quem conta tais histórias são pessoas mais velhas, mais vividas. E por conta disto, recebi alguns relatos pelo meu Facebook, outras me foram passadas pelo meu e-mail, mas uma em especial me chamou a atenção, pois chegou para mim de uma forma mais interessante, por carta, não pelos correios, mas sim um envelope pardo, passado por debaixo da porta de meu comércio.
Para deixar mais claro, eu não divulgo muito meu trabalho de escritor, fazendo quase que exclusivamente por meio de redes sociais e aqui pelo blog, o que me faz desconfiar que tal história possa ser inventada, entre outros motivos que depois eu comento, creio que quem leia o que eu escrevo, deve saber usar a internet, e fazer um perfil anônimo ou mesmo um e-mail qualquer, é relativamente simples, não precisaria vir até meu comercio e a noite e passar uma carta pela porta. Lógico que por se tratar de uma cidade bem pequena, as noticias correm de boca em boca, e quem sabe por isso me encontraram para divulgar a história. Devo admitir que gostei disto, pois parece que isso me envolveu mais com a história. A história é muito interessante, e já deixo claro aqui, que apesar de, a meu ver, faltar um final, não vou inventar nada, apenas vou transcrever aqui o que está escrito na carta.
Outro detalhe, eu sou papai novo, meu filhinho está com quase 9 meses, mas ele nasceu um probleminha que necessitará de uma cirurgia, que será feita no dia 29 de agosto de 2018,(estou escrevendo dia 25 de agosto). Por conta disto, estarei com pouquíssimo tempo para escrever. Peço desculpa a todos meus leitores, mais tenho certeza que logo tudo se ajeitará e poderei voltar produzir para o blog.
Bem, vamos lá!
A carta:
Olá Mario vou te contar algo que vem em minha família há muito tempo, imagino que vais gostar.
Meu bisavô tinha uma chácara na fronteira, Gaúcho campeiro, acostumado à lidar com gado, ovelha, e com a lida de campo, sempre com uma adaga de s bem afiada ao alcance da mão para qualquer problema que pudesse aparecer. Lá ele ficava na casa principal junto com sua primeira esposa (minha bisavó é a terceira esposa dele). A chácara não era grande tal quais as grandes fazendas, mas era grande demais para uma única pessoa tomar conta, por conta disto ele dava trabalho a uma pequena e humilde família: Tião, negro que provavelmente era descendente de escravos, a esposa dele, Maria, mulher cor de cuia que poderia muito bem ser bugre, mas não sabiam bem se realmente era bugre ou uma mestiça e a filha deles Isabel. Tião e Maria moravam em um galpão adaptado para virar casa para eles, este galpão ficava próximo a um capão, que se destacava em meio à chácara, Isabel grande parte das noites dormia em um quartinho na casa principal, pois apesar de ter aproximadamente 13 anos, ela já ajudava nos afazeres domésticos da casa, e em poucas noites ia dormir junto dos pais. Apesar de meu bisavô ser o patrão, trabalhava tanto quanto Tião, e tratava Tião como um grande amigo e não como um empregado. As refeições todos faziam juntos, como uma família.
Em uma final de tarde, estavam todos jantando, já que a luz do sol era a principal deles, após o pôr do sol, a principal fonte de luz eram lamparinas a banha de porco e poucos lampiões a querosene. Quase ao fim do jantar, a luz do sol já estava em baixa, e os quatro cães da chácara começaram a acoar, eles agiam estranho, aqueles cães acostumados a caçadas não se assustavam por qualquer coisa, bem até aquele dia, pois todos os quatro cães após correrem em direção ao capão acoando bravos, sentiram ou viram algo que fez com que os quatro voltassem correndo com o rabo entre as patas, e se escondessem dentro da casa principal, onde todos estavam. Meu bisavô e Tião se entreolharam, pois sabiam que aquela reação dos cachorros não era normal. Meu bisavô pensou em entrar e pegar uma espingarda, mas isso assustaria as mulheres, e então ele e Tião saíram para a rua ambos de adaga em punho, mas nada viram, andaram um pouco, mas como a luz do sol logo se esvaiu, eles adentraram a casa e continuaram a refeição como se nada tivesse acontecido, até que Tião e Maria resolveram ir para sua casa, Isabel os acompanhou, pois queria passar mais um tempo com os pais.
A noite chegou com força e a luz deles eram somente a pequena chama das lamparinas, Tião já deitado e Maria e Isabel conversavam, e Isabel precisava fazer xixi, mas naquela época não existia banheiro como os de hoje, eram patentes, que ficavam afastadas das casa por conta do cheiro e higiene.
Isabel pediu para Maria a acompanhar, e assim foi, as duas saíram e foram até o banheiro para fazer xixi, Isabel foi primeiro, e depois Maria, mas assim que Maria entrou e fechou a porta pode ouvir que Isabel deu alguns passos ao lado da casinha da patente, e após isso não ouviu mais nada. Terminou de urinar e saiu, mas não viu Isabel, a chamou, mas não ouviu resposta, ela olhava para o campo e para o capão, mas o escuro só não era total por conta dos vagalumes que voavam e piscavam, mas se luz o suficiente para iluminar nada. Maria volta para casa e pergunta para Tião se Isabel havia voltado, Tião disse que não, o imperou ao peito dos dois apertou e em um pulo Tião já estava na rua procurando sua filha, a luz da lamparina mais atrapalhava a visão do que qualquer coisa, ele foi até a casinha da patente, até o capão, e como não viu nada foi até a casa principal ver se a filha não havia voltado para lá. Como já sabia, ela não estava lá, e então meu bisavô se juntou na busca, ambos andaram pelo campo, no estábulo, no chiqueiro, no paiol, e nada de encontrarem Isabel. Um detalhe é que os cães estavam junto deles, mas nem faziam questão de farejar, nem mesmo a frente dos donos eles andavam como é de se esperar de um cão acostumado a caçar a noite, mas os cães pareciam estar na defensiva, andando sempre atrás de seus donos.
Já se passaram horas, e eles já não sabiam mais o que fazer, e então voltaram ao ponto onde ela sumiu, a casinha. Chegando lá um dos cães se negou a acompanha-los e ficou sentado ao longe, choramingando. Os outros três acompanharam os donos, mas ainda de forma defensiva, ao chegarem perto da casinha, os cães começaram a cheirar o ar, e logo se puseram a correr de volta para a casa, algo ali os assustou, ou algo ali marcou o território e eles não queriam invadir o mesmo. Mas mesmo vendo isso, Tião e meu bisavô não podiam deixar de lado o acontecia.
Ao se aproximar da lateral onde Maria disse que Isabel andou, eles puderam perceber que a grama estava sutilmente amassada, mais a frente percebera outro amassado nas gramas, mas a distância de um amassado e outro era de no mínimo de 3 metros, e apesar de parecer uma pegada normal de uma pessoa descalça, não existe como alguém dar um passo de 3 metros.
Continuaram procurando por essas possíveis pegadas, e para a surpresa deles encontraram outra a uns 5 metros da anterior, e ao que tudo indicava tais marcas levavam até o capão. Cautelosos foram até lá, e o breu era quase que total, mesmo estando acostumados a andar por aquele lugar, a situação arrancava suor frio deles, a tensão amplificava todo o ruído audível, todos os sentidos se aguçaram, e foi então que começaram a sentir um cheiro almiscarado e repugnante, era de começo sutil, mas quanto mais andavam mais forte ficava, eles desconfiaram que era este o motivo dos cães não avançar, mas seguiram.
Chegaram a um ponto quase que central do capão, e lá começaram a ouvir como se algo muito grande saltasse de árvore em árvore, folhas começaram a cair, galhos quebraram e árvores balançavam, eles não conseguiam ver o que causava aquilo, nisso ouviram um grito apavorado fora do capão, era Maria. Ambos se puseram a correr, mas obviamente que correr em um mato fechado e escuro não acabaria bem, e não demorou muito para ambos esbarrarem e tropeçarem, mas o pior aconteceu ao meu bisavô, que em uma destas trombadas, deu de testa em um galho grosso e forte, que o derrubou, o pior não foi cair muito menos sentir o cheiro ferroso de seu sangue que saia de um grande corte em seu supercílio, mas sim ouvir que o que quer que pulava entre as árvores desceu, talvez atraído pelo odor de sangue, e sem nem perder tempo sentindo dor, meu bisavô voltou aquela corrida as cegas. Logo conseguiu se desvencilhar da escuridão do capão, mas não foi por isso que parou de correr, e correu, só parou ao perceber que Tião que corria a seu lado havia ficado para trás, e ao se dar conta estava ao lado de Maria, que boquiaberta olhava em direção ao capão. Ao se voltar ao capão, meu bisavô viu uma espécie de sombra, mais escura que o breu daquelas árvores, era de forma humana, e assim que meu bisavô olhou, viu aquela coisa entrando novamente ao capão. Tião começa a andar em direção ao capão novamente, meu bisavô um pouco hesitante o acompanha, e ao chegarem às margens do capão, um vento precede uma explosão muda, uma explosão de luz, como um grande e intenso relâmpago. Momentaneamente eles ficam cegos, por conta luz forte, e ao voltarem a enxergar, qual não é a surpresa dos dois ao se depararem com Isabel saindo daquele capão, nua, desorientada, mas aparentemente bem.
Maria se apressou e abraçou sua filha a levando para casa e dando uma tecido para a filha se cobrir, encheram Isabel de perguntas, que de nada lembrava, sua ultima memória era de ir com a mãe fazer xixi.
Isabel se mostrava cansada, e pediu para ir dormir, todos entraram em acordo de que dormir na casa principal seria mais prudente, e assim a levaram, e assim que ela chegou no quarto deitou e dormiu. Ainda assustados, Maria se ofereceu para fazer um curativo no ferimento de meu bisavô, e enquanto o fazia, meu bisavô perguntou o porque ela gritou quando eles estavam dentro do mato e a resposta foi de que ela estava saindo de sua casa quando se deparou com um ser preto, com olhos esbugalhados que a encarou por uns segundos, e saiu, mas não correndo e sim com saltos, e em três pulos estava no capão, e só ai que ela saiu do transe e conseguiu ter uma reação, que foi aquele grito.
No dia seguinte Isabel não se lembrava de nada do acontecido na noite anterior, apenas sentia um cansaço extremo e um pequeno sangramento vaginal...
***
Consideração do autor
Como já falei antes, gostei de receber uma carta, pois enquanto lia, ia recriando as cenas mentalmente, chegando a me sentir junto na tal chácara. O fato de vir no papel, é algo interessante, nostálgico. Mas também percebi que tal carta apesar da fonte copiar uma máquina de escrever, é impressa por uma impressora, e essa fonte não é normal do Word, e sim uma fonte que deve ser baixada, e por conta disto, acho que a mesma pessoa que escreveu poderia ter me enviado de outras maneiras, mas isso não diminui nada credibilidade, pois cada um tem seus motivos.
Os poréns ficam no fato de não ter um final na história, e outras pontas soltas, como no fato de o bisavô ter três casamentos, será que essa Isabel não engravidou, e a primeira esposa dele o acusou de ter tido um caso com essa menina e por isso ter se separado? Se bem que isso se passou em uma época onde separação era algo no mínimo incomum. Mas de toda forma, se a pessoa que me mandou esta carta está lendo essa postagem, pode mandar mais cartas assim viu....
Escrito por: Mário Resmin
De: Não Entre Aqui
Imagens da Carta por: Mário Resmin
Autor original da carta, DESCONHECIDO.
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