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 ....  — Como vim parar num lugar desses? Agora mesmo eu estava em meu plantão no hospital....


 

 Camila, não entendendo o que estava acontecendo, segue uma pequena trilha aberta de forma tosca e grosseira em meio ao mato. Com os braços ela afasta os galhos que ainda estão em seu caminho, sente a sua pele ser arranhada por alguns desses galhos ou talvez espinhos.


 A trilha é escura, ela segue quase as cegas, pois fora a trilha, a mata fechada e a pouca luz que o sol ainda concedia não eram suficientes para iluminar mais que o trajeto aberto a facão ou machado. Ela sente seu coração bater mais forte e apertado, mas isso não era uma novidade para ela, pois nos últimos dias, aquela sensação se tornou quase que corriqueira, ela, técnica em enfermagem em um grande hospital de referência, que apesar de não ser na capital do Rio Grande do Sul, ainda era um dos que mais recebia pacientes de todos os locais do estado. E aquela sensação de medo, por não saber o que vai acontecer nos próximos passos, era o que mais todos aqueles que trabalham na linha de frente contra a Sars-Cov e sua variantes, estão sempre nesta mesma situação, todo próximo passo pode levar a algo desconhecido, e apesar de muitos pacientes conseguirem se recuperar, para Camila, não era tão simples, era uma das responsáveis pelo setor de tratamentos intensivos, e a UTI onde ela trabalhava, era, literalmente a última esperança de quem ia parar lá.


 Aos poucos, Camila percebe que a trilha ia se abrindo, sentia que estava próxima do fim daquele caminho. Cada passo era dado com cuidado, a luz escassa, cada vez ajudava menos, mas ficar parada, sem fazer nada, não era uma opção.


 A luz já não era suficiente para que ela visse muita coisa além de alguns passos a sua frente, mas ela já percebia que a mata estava aberta, ou ao menos, menos fechada, pois agora ela apenas sentia alguns galhos mais grossos passando por suas pernas a mais ou menos, cada dois passos, e isso meio que a intrigou. Ela tenta olhar em sua volta, mas o breu a impede de ver algo. A única visão que tinha era do horizonte longe, onde alguns relâmpagos mostravam para nada é ruim o suficiente que não possa piorar.


 As coisas estavam estranhas de mais para ela, por vezes ela acreditava que tudo era um pesadelo, aquela doença levava ela e outros profissionais da linha de frente a um extremo jamais visto antes. Camila, deixou sua filha de 4 anos com sua mãe e está “morando” no hospital, para evitar o risco de transmitir a doença para sua família. Mas não é somente isso que é extremo, o cansaço, o esforço, a pressão física e mental, tudo, simplesmente tudo que ela e outros passam, poderia ser comparado ao mais terrível e sinistro pesadelo que alguém sequer conseguiu imaginar até então.


Aquelas trovoadas se aproximavam de forma rápida, muito rápida, mas inclusive isso era diferente, pois passar tanto tempo trabalhando, fazia com que o tempo parecesse passar de forma diferente. Mas então os trovões chegaram e eram ouvidos e sentidos na pele, aquilo assusta, ela fecha os olhos, e sente água desabar sobre o corpo, os trovões continuam, e sem escapatória, ela abre os olhos. E preferia não ter aberto, ela se vê, então em meio a um cemitério coletivo, com centenas, senão milhares de cruzes brancas em frente a covas abertas em um barro vermelho, para todo lado que olhava eram covas e mais covas, a cada clarão dos relâmpagos mais ela se desesperava, foi quando então seu coração quase parou... ela ouviu como que saindo de todas essas covas, o seu nome sendo chamado:


— Camila...


—Camila....


— CAMILA!!!


— CAMILA! Acorda! O que está acontecendo?


 Em um movimento único, Camila se levanta rapidamente e puxa o ar, como se esse estivesse prendendo o fôlego a algum tempo, e continua ouvindo, ao longe, alguém falar com ela:


— Você está bem? Está molhada de suor...


 Ao ir retornando, ela percebe que estava tendo um pesadelo, e afasta a mão de Lucia, sua companheira de dormitório que foi acordá-la como haviam combinado anteriormente.


— Camila, será que você se contaminou? Me deixa medir a sua temperatura...


 Ela já não tinha nem forças para relutar contra aquilo, levantou o braço, e enquanto esperava o sinal sonoro do termômetro digital, tentava se recompor.


— 36,9°, não está com febre, isso é bom, mas o que está sentindo, você está horrível?


 Camila apenas olha para a amiga com cara de poucos amigos, ela bem sabe que todos estão esgotados, aquela pergunta era, no mínimo, irritante.


— Ah, Camila entendi, você não quer falar porque está rouca e com dor de garganta, isso é covid, vamos ter que te examinar e tomar as medidas necessárias...


— Por favor Lucia, cala a porra da boca por um segundo.... me deixa acordar....


— Eita estressadinha, só estou preocupada com você... e não vem me xingar, você sempre fica de mau humor enquanto o download da alma pro corpo demora pra acabar... tem que acordar logo... não adianta ficar se arrastando...


 Camila só reúne forças para erguer o dedo do meio e mostrar a amiga.


 Ela vai em uma mesinha que havia no canto de seu dormitório e pega na cafeteira aquilo que nos últimos tempos era seu combustível. Serve uma grande caneca, e parece nem se importar com a temperatura, quase seca a caneca de café em um único gole.


 Ai como se o universo quisesse tirar sarro de sua cara, no momento que a amiga se cala, o seu telefone começa a vibrar em sua cabeceira da cama, ela só se apressa no momento que Lucia pega o telefone e diz:


— É sua mãe te ligando...


 Camila se apressa e pega o telefone:


— Alô, mãe, está tudo bem com a Isabel?


— Bom dia, filha, a Isabel está ótima, apenas deixei ela dormindo pois quero falar com você algo que não quero que ela escute...


—O que foi mãe? Você está ruim? O que aconteceu?


— Não, nós estamos bem... quem não está bem é o Roberto


— Quero mais que aquele traste morra...


— Filha, eu sei tudo que esse traste fez para com você, mas estou te ligando, porque ele é pai de sua filha, e você sabe que para Isabel, ele nunca levantou um dedo, pelo contrário, ela ama e cuida dela assim como você...


— Tá, Tá, Tá... Mas não vai me dizer...?


— Pois é, filha, A mãe dele me ligou no meio da madrugada, dizendo que ele havia dado entrada na emergência aí no hospital, mas devido a gravidade de sua falta de ar, foi levado às pressas para a UTI...


— ....


— Creio que a medida protetiva ai não terá muito valor...


— Mas...


— Filha, não existe como trocar de lugar com alguém? Tentar evitar?


— Mãe, não, isso não é uma possibilidade, pois o pessoal já está limitado, e exausto... e aqui, não importa quem é a pessoa, tenho que tratar dela da melhor maneira possível...



— Minha filha, por favor, você sabe pelo que passou... não precisa ter que passar por algo assim.... tenta trocar com alguém... pra que reviver algo tão doloroso, ainda mais em um momento desses?



 Nesse instante gritos são ouvidos do lado de fora dos dormitórios,  aquilo já estava se tornando praxe. Mesmo com os enfermeiros de plantão, as vezes vários pacientes precisavam de ajuda, e era preciso se vestir com todos os equipamentos de proteção o mais rápido possível e ir auxiliar os atendimentos.


 Camila nem se despede de sua mãe, simplesmente sai correndo junto com Lucia até o vestiário e se prepara para atender as urgências. Elas se equipam e vão até a UTI, era uma sala com varias macas, no total daquela que ela trabalhava, eram oito macas, oito pacientes entre a vida e a morte. Ao olhar para todas as direções o quadro dos pacientes parecia se agravar, recentemente as noticias sobre o Sars-Cov não eram boas, havia 3 novas mutações possíveis que nossos aparelhos e medicamentos pareciam não ser suficientes, mas, não perdíamos as esperanças, nosso bloco era a última esperança deles.


A cada passo dos profissionais envolvidos ouvia-se um bip de aparelhos, grunhidos vindo dos entubados, até mesmo o gotejar do medicamento intravenoso na tensão do momento fazia-se ouvir constante, em meio ao inicio do caos em nosso bloco avisto um paciente que precisa de cuidado imediato. 


 E adivinhem qual era o que estava precisando da ajuda dela naquele momento?


 Caros Leitores, oque faremos agora? está em suas mão, qual será as decisões de Camila?


** História interativa, coloque nos comentários qual a melhor continuação em sua opinião que iremos continuar a partir de sua sugestão.


De: Não Entre Aqui

Post interativo

Autor: Mário Resmin

2 comentários:

  1. Cada um dos passos da Camila terão consequências em sua história.
    Você, se pondo no lugar de Camila, atenderia ao seu ex, que está em estado grave, podendo morrer? ou tentaria trocar de lugar com outra enfermeira?
    Se atender, e o ex acaba tendo algum problema ou morre, será que não será julgada e acusada de fazer isso de propósito? e se troca de lugar com outra, será que não vão acusa-la de ser negligente ao se recusar a atender alguém?
    Qual caminho Camila deve seguir?

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  2. Eu não atenderia ele, trocaria de lugar com outra enfermeira.

    ResponderExcluir

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