(Adaptação de imagem de: taokk.deviantart )
Depois de examinar os relatos de alguns pacientes, eu
percebi o leque de bizarrices que nós temos aqui... Honestamente, eu nunca
pensei muito nesses pacientes como pessoas.
“Doido” é um rótulo que
imediatamente desumaniza alguém, tira deles qualquer possibilidade de empatia
ou compreensão.
Por exemplo, tem uma menina que se recusa a falar com qualquer
pessoa que não a deixe sentir suas têmporas, por causa das “fibras nervosas”
(seja lá o que isso signifique). Fora isso, e um pouco de paranoia, ela parece
completamente normal – mas antes, era muito fácil apenas taxa-la como mais uma
paciente doida.
Quanto mais leio os relatos, mais eu percebo que estas são
pessoas reais. Apenas afligidas por dores além da imaginação mundana.
Ontem à noite estava lendo
durante uma pausa, até que as palavras de um homem me chamaram a atenção. Eu o
conheço. Depressivo, conformado e esgotado, mas agora, acho que por trás de
tudo isso, talvez ele seja como um de nós. Ele só está...preso nessa dor.
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Tá bom, eu conto! Mas nada de choques! Você prometeu que não
teriam mais choques se eu te contar!
Eu sei como começou. Agora, quando lembro disso, parece óbvio:
Eu estava andando na rua com alguns amigos. Estávamos
bebendo no caminho para um outro bar, quando um cara esquisito e desesperado
esbarrou em mim. Ele cheirava a suor e...alguma outra coisa...ele sujou minha
mão com alguma coisa. Minhas unhas para ser mais específico. Sangue. Ele me sujou de sangue.
Ele congelou, com uma feição triste e assustada. “Me
desculpa”, ele disse. E eu acreditei nele, mesmo não sabendo, na hora, pelo que
ele estava se desculpando. E então ele correu.
Quando vi o sangue fiquei enojado, mas tentei só limpar e
esquecer aquilo. Nada aconteceu...por um tempo.
Oh Deus! Eu lembro de cada detalhe daquela noite. Deitado
sozinho no meu apartamentozinho fajuto. Nossa, como sinto falta dele. É um
palácio comparado aos seus “cuidados”.
Eu acordei um pouco antes de acontecer. Eu estava encarando
o teto escuro, me sentindo estranho. E de repente eu precisei me curvar de
tanta dor que senti, chocado demais até para gritar. Eu me lembro que eu vi,
ainda sem entender o quanto estava fodido, uma grande lâmina ensanguentada
saindo da minha canela.
Eu não compreendia. De onde veio aquilo? Alguém me apunhalou?
Eu tentei pegar o telefone, mas senti uma dor ainda maior
quando a lâmina se mexeu. Outra enorme navalha branca saiu e as duas se
separaram, fazendo uma linha na minha canela. Eu tive a visão de navalhas me
fatiando em pedacinhos de dentro para fora...hoje, bem que eu queria que isso tivesse
acontecido.
Eu não tive muito tempo para entrar em pânico. Elas pararam.
Eu senti um pequeno alívio que não durou muito, quando eu percebi que uma coisa
viva tinha saído do osso da minha canela.
A coisa examinou o quarto com seus seis olhos perolados,
enquanto pingava com meu sangue. Parecia uma aranha de meio metro esculpida num
osso com seis pernas de navalha.
“Inesperado”.
Aquilo falou? Mas não tem boca. Como ele
estava falando?
- Inesperado?
Eu perguntei assustado.
"Quem é você?"
Tremendo e a beira das lágrimas, eu só queria que aquele
treco fosse embora.
- Ninguém importante...
Resposta errada.
Ele enfiou a perna de volta no meu osso exposto,
cuidadosamente desviando da carne separada e do sangue corrente. Senti uma
picada no peito...Pelo que eu pude compreender, a perna de navalha daquela
criatura entrou na minha tíbia, mas saiu de uma das minhas costelas. Uma ponta
de lâmina pressionando meu coração por dentro...
- Por favor, por favor...
Eu implorei enquanto o suor caia nos
meus olhos.
- Eu faço o que você disser, eu faço, eu faço, só não me mata..
Ele respondeu.
“Aceitável”
Ele tirou a perna e a dor foi embora com ela.
“Você fará como for instruído ou morrerá dolorosamente”
Eu me engasguei com o soluço.
-Sim, sim, claro.
Ele voltou para o osso exposto e...sumiu. Sem entender o que
tinha acontecido, eu fui ao hospital, falei que foi um acidente e levei alguns
pontos na perna. Parecia que eu teria minha vida de volta.
Eu estava errado.
Ele saiu por entre os pontos algumas noites depois.
Desolado, mas preparado, eu fiz questão de memorizar tudo o que pude sobre ele.
Mortal, mas estranhamente belo, como um inseto cor de marfim. Ele me dava
ordens e me fazia...fazer coisas.
Começou com pequenos crimes. Que eu tinha que executar de
maneiras muito especificas, plantando evidências por razões que ele não me
dizia.
Ele me levou até criminosos perigosos, mas essas pessoas eram o menor
dos meus problemas. Um dos seus outros escravos me deu um osso gigante de
animal com um sangue especial, e Ele me fazia levar esse osso pra uns lugares
esquisitos.
Ele saia do osso e conversava com alguém. Eu nunca cheguei a ver
quem era, não que isso fosse me ajudar.
Eu perdi as esperanças depois de muitas noites procurando
por ajuda, mas sem resposta. Eu espancava pessoas. Furtava. Assaltei lojas de
conveniência. Ele até me fez colocar aquele maldito sangue nas unhas de um outro
cara. Eu não pude fazer nada enquanto, aos poucos, as navalhas se separaram...as
mãos dele caindo no chão...a perna...gritando, implorando, suplicando...aquilo
torturou ele até a morte por uma informação que eu não entendi...eu tive que
pegar os pedaços dele e jogá-los fora depois...Oh Deus...
Ao longo do tempo eu fui encontrando...outras maneiras de me
fazer esquecer do vazio obscuro e desesperador que existia dentro de mim. Meu
irmão me achou na rua depois de alguns meses. Me lembro de cada detalhe disso
também:
- Você precisa vir pra casa. Vamos te tirar
das drogas, te deixar limpo. Papai vai te arranjar um emprego.
- As drogas não são o problema!
Eu gritei pra ele.
- É a
única coisa que me impede de perder a sanidade. É o Bonewalker.
A medida que as palavras saíram da minha boca, eu senti uma
picada no meu ombro esquerdo...e depois do lado direito do meu pulmão... A
mensagem era clara: Ele estava me observando.
- Vá embora!!
Gritei pro meu irmão.
Eu senti cada pedacinho
de mim exatamente como aquele cara nojento e desesperado que esbarrou em mim.
- Você não pode me ajudar! Vá embora!
Depois disso, me afundei ainda mais nas drogas. Qualquer
coisa que lembrasse o que eu era antes de tudo isso, sumiu. Então decidi que
não ia fazer mais nada, mesmo que eu precisasse morrer por isso.
Ao seu
comando, eu comprei um rifle. Ele queria que eu matasse alguém, alguém
importante..., mas quando Ele me desse o nome e o plano, eu iria recusar.
Imaginei como Ele me mataria. Se mataria minha família...
Será que eu tinha mesmo uma escolha? Eu precisava fazer o Bonewalker pensar que
não era minha culpa...
Liguei para a polícia e dei uma dica anônima. Eu estava
calmo e cheio de alívio quando eles me cercaram e me puseram algemas. Fiquei
sob custódia, aparentemente pego pela polícia. Quando o Bonewalker viesse, não
teria motivo pra punir minha família pelo menos. Mataria a mim apenas.
Mas ele nunca veio.
Digo, eu sei que ele não veio
até agora, mas estou acabado e preso aqui de qualquer forma. Eu fico
pensando...e se tiverem mais? E se Eles vierem me pegar, porque eu sei das
coisas? Não vai ter aviso. Pode ser a qualquer momento! A sensação de uma
lâmina afiada passando e então, estarei morto...
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O que mais me cativa sobre esse relato é que se assemelha
muito com alguns devaneios deixados por um homem que morreu tragicamente a um
tempo atrás. Ele foi mutilado de uma maneira inimaginável – como se seu rosto
tivesse sido arrancado pelo lado de dentro. A história dele chegou aos jornais
depois que perceberam que ele era o serial killer responsável por diversas
mortes similares...
Mas aquele homem disse que, como seu último feito, ele daria
um jeito de destruir a criatura.
Imagino que o paciente deve ter lido sobre aquele homem e
acabou criando uma obsessão ou delírio sobre isso. Acho curioso como a loucura
parece ser contagiosa... aparentemente mais ainda hoje em dia. Estou começando a
pensar se esse lugar realmente está tentando ajudar essas pessoas... ou só deixá-las
isoladas... como quarentena para uma praga.
[Atualização: E agora estou convencido de que há algo mais
acontecendo.]
[Próximo capítulo: A Bolsa de Estudos]
Tradução Livre Por: Alicia
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