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Eu venho quebrando a cabeça tentando pensar no presente perfeito para o meu amor. Precisava ser algo bonito, mas atencioso. Eu não podia dar pra ela algo que não tivesse significado ou que fosse quebrar em alguns anos. Eu venho pensando nisso a algum tempo e acho que eu encontrei.
Um pouco de contexto - a mulher que eu estou namorando se chama Kristy. O cabela dela é curto e castanho. Os olhos dela são grandes e brilhantes. Ela é pequena e tem várias tatuagens. Ela é a mulher mais linda que eu já vi na minha vida.
Eu acho que é meio superficial, mas foi isso que me atraiu quando nos vimos. Ela sentou sozinha no bar e ficou bebericando alguma bebida colorida. Não é algo que me orgulha, mas eu ficava andando pelo bar procurando mulheres bonitas. Mas a Kristy era diferente. Sim, ela era bonita, mas ela tinha um tipo de beleza etérea que transcendia a atração física. Ela praticamente brilhava.
Eu me aproximei e me ofereci para pagar um drink. Quando ela sorriu eu senti meu corpo todo formigar. Ela se aproximou como uma cobra, a perna dela deslizando ao lado da minha. O toque dela era intoxicante. Eu acho que foi ali que eu soube que era o destino.
Isso foi a três meses. A gente ainda se conhece muito pouco, mas eu sei que ela é a certa. É algo que eu não consigo colocar em palavras. Ela me encantou e isso foi suficiente. Tudo simplesmente fazia sentido.
Infelizmente, nós dois estaríamos ocupados no dia dos namorados, então eu preciso dar o presente hoje a noite. Eu criei um clima pra quando ela chegar. Joguei pétalas de rosas pelo chão fazendo um caminho até nosso quarto. Acendi todas as velas que tinha. Ajeitei o quarto e não pude conter um sorriso quando estava dando os toques finais.
Kristy chega na minha casa às cinco. Ela fica impressionada com o quanto me esforcei pelo presente. Eu a despi devagar, deixando meus dedos acariciarem a pele brilhante. Ela está tão animada que sua pele pinica com meu toque. Cuidadosamente eu amarro a venda de seda sobre os olhos dela. Ela dá um riso contido. Ela deve pensar que é algum tipo de surpresa sexy, mas a verdade é que o presente é muito mais que isso.
Eu a levei para o quarto. Ela continua rindo e perguntando o que é isso tudo. Eu a provoco e digo para ser paciente. Entramos no quarto iluminado a luz de velas. Ela sente o calor das chamas e solta um suspiro. Eu levo-a para o centro e digo que espere por mim.
Ela fica, impaciente, mas sorrindo. Ver o corpo dela sob a luz faz meu coração acelerar.
Eu me ajoelho e completo o círculo de sal em sua volta.
“Por que está demorando tanto?” Kristy pergunta brincando.
“Eu só preciso terminar uma última coisa”, eu respondo. O círculo de sal está posicionado com perfeição, assim como as sete velas ao seu redor. Eu pego meu canivete suíço e faço um corte profundo na palma da minha mão, deixando o sangue pingar devagar no chão como uma torneira quebrada.
Kristy começa a ficar inquieta. “Ei, o que tá acontecendo? Eu vou tirar a ven-”
“Ainda não!” Eu não quis gritar, mas ela precisava ficar parada.
Ela para de se mexer e cruza os braços.
Eu vou até o closet e abro a porta. Ali no chão está, como sempre, o meu amor. Sua pele enrugada está tão fina que eu tenho que enrolar ela num lençol para que não se rasgue. Ela está inconsciente. Ela está assim a uns seis meses.
Quando eu tento levantá-la alguns tufos do seu cabelo cinza se prendem nos meus dedos. Eu volto para o círculo.
Kristy claramente está desconfortável, não que isso importe. Desde que seu corpo esteja intacto o presente vai estar completo.
Eu deito meu amor dentro do círculo. As chamas das velas esquentam e uma lufada de vento entra pelas janelas. Kristy resmunga. “Eu não gosto disso”.
“Fique quieta” eu digo a ela.
Ela dá um passo para trás e seu pé encosta no meu amor. Ela grita e tira a venda, “Que porra é essa?!” Ela corre na minha direção, mas fica presa pela círculo de sal e cai no chão. Ela fica confusa encarando a parede invisível. O nariz dela sangra levemente.
Eu me inclino para frente. “Não faça isso de novo. Você vai se machucar.”
Kristy tenta se afastar do corpo no chão. “O que está acontecendo?” Ela fica desesperada.
Elas sempre ficam.
Eu me sento no chão olhando as duas mulheres. Kristy, jovem e vibrante, e meu amor, Aoibhell, presa no corpo de uma mulher velha. Minha animação aumenta. Com uma voz séria eu recito:
“Ela que toca a harpa, que faz do homem cinzas. Volte, volte meu amor morto-vivo. Ceife-a, condene-a em seu lugar.”
Kristy começa a gritar. Meu sorriso brilha sob ela, agora fraca, a luz de velas. Ela segura sua garganta à medida que esta se fecha. Ela tenta gritar por ajuda, mas sua voz está sumindo. Aoibhell grita através dela e seu corpo cai no chão.
Eu espero alguns instantes na escuridão. “Meu amor?”
Os olhos de Kristy se abrem. Ela se senta, olha para mim e sorri. Esse é o sorriso que eu conheço a milhares de anos. “Você fez bem,” disse Aoibhell. Ela se levanta trêmula,tocando sua nova forma nua. “Este corpo é lindo.”
“Você merece muito mais,” eu digo me curvando em sua direção.
A mulher velha começa a chorar. “O que você quer fazer com a garota?”
“Você que decide, meu amor.” Aoibhell gesticula na minha direção e eu me levanto.
Ela pega minha mão e sai do círculo de sal. Eu arrasto Kristy, agora presa no corpo da mulher velha, até a cama. Aoibhell está feliz. Ela usa seus novos dentes para morder o pescoço de Kristy e beber seu sangue idoso. Kristy tenta gritar, mas não consegue produzir som algum. Sua garganta está seca e ela está a beira da morte. Aoibhell arranca um pedaço de carne da barriga de Kristy. Ela se delicia e me convida para me juntar a ela. Logo estamos os dois cobertos de entranhas que por algum tempo foram a vida de Kristy.
Aoibhell para de mastigar um segundo e me olha. “Eu amei meu presente,” ela disse num sussurro.
Eu me inclino para beijar sua mão. “Você merece muito mais.”
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