Full width home advertisement

Post Page Advertisement [Top]


Vi o último resquício de sua presença se esvair enquanto a escuridão consumia sua existência envolvendo-se ao seu redor.

Fiquei dentro do carro, totalmente imóvel perante a situação em que nos encontrávamos, apenas aguardando alguma futura ordem. Não podia nem se quer ativar o rádio para lhe dizer minhas últimas palavras, pois ele já se encontrava adentrando no depósito.

Havia aparentemente 2 guardas que revistaram e se certificaram que Gabriel possuía permissão para entrar no local. O primeiro era magro e alto, estava com um conjunto de roupas inteiramente pretas e parecia possuir uma arma no lado direito de sua cintura. O segundo era um pouco menor, mas bem parrudo, com certeza eu não teria chance fisicamente contra ele caso fosse travada uma luta corporal, estava apenas de regata e calça, aparentemente não estava armado, o que talvez signifique que o homem magro tivesse habilidades com a arma suficientes para proteger o local sem auxilio do outro. Esse pensamento me atormentou um pouco, afinal contra o homem forte eu tenho mais de uma faca para surpreendê-lo, mas contra uma arma de longo alcance nós não temos chance alguma.

Assim que terminou de ser revistado, o homem magro pediu para que continuasse andando. No momento em que o homem teve uma abertura, ele apontou sua arma para a nuca de Gabriel, proferiu algumas palavras e a porta se fechou. Olhei fixamente para a porta serrilhando meus olhos tentando compreender o que havia acontecido, mas apenas ouvi o barulho alto da arma disparando.

Pulei desesperadamente no banco do carro, meus ouvidos zumbiam e minha cabeça girava sem parar, abri a janela e vomitei pra fora. Puta que pariu o que eu iria fazer agora? Não tinha como invadir o local e salvar a Bruna sem auxilio de dentro do local. Mas o pior, Gabriel estava morto. O homem que minutos atrás estava dentro do meu carro, chorando, falando comigo e mesmo assim tentando parecer confiante, estava morto. Essa sensação mórbida me consumia por inteiro, quem sabe o que aconteceria nos próximos minutos? Como eu disse, na vida real nada é certo, nada acontece exatamente como planejado e qualquer passo errôneo pode causar a perda de uma vida em uma situação dessas.

Abri a porta do carro e fui me esgueirando até a parede do outro lado da rua. Permaneci abaixado ali tentando ver algum movimento do lado de fora do abatedouro, com certeza haviam câmeras na rua para que o local fosse monitorado. Então talvez tivessem 3 homens dentro do local, e não apenas 2.

Continuei andando assim por algumas quadras, até chegar próximo do depósito. O lugar era mais acabado do que eu esperava. As janelas quebradas em todos os 4 cantos da construção tornava bem fácil a minha invasão.

Andei por ao redor tentando achar uma janela que não fosse tão alta, apenas para espiar lá dentro e tentar entender o que estava acontecendo e onde estava minha amiga e o corpo de Gabriel.

Porém, não existiam janelas baixas, o que de certo modo não me impressionou. Na verdade isso esclarecia totalmente o motivo de terem escolhido aquele local para sediar aos interesses podres da prefeitura.

Fiquei ali parado por alguns minutos enquanto pensava em uma solução para o problema em que agora me encontrava. Olhei mais ao redor em busca de buracos nas paredes quando senti meu celular vibrar no bolso da calça. Não, espera, era o rádio. Ele estava fazendo um som de “tsc” e vibrando em um ritmo incessante, pensei ser apenas um bug ou algo assim. Quando minha mente dá uma iluminada repentina,“CÓDIGO MORSE”, eu disse em uma voz quase alta demais para que ouvissem de dentro do depósito. Senti a vibração por mais alguns segundos, a mensagem dizia “Vivo. Bruna. Oeste. Rapido. Homens. Dois”.

Ou seja, Gabriel ainda estava vivo, a Bruna se encontrava ao oeste, eu deveria ser rápido e havia apenas dois homens no local.

Fui até as janelas do oeste, e percebi que haviam alguns tijolos na parede que estavam desgastados demais e eu poderia quebra-los com outras pedras, de modo que me permitia escalar até a janela quebrada. Ela se encontrava a 5 metro do chão, não seria tão difícil.

Subi lentamente com medo de que os tijolos se soltassem, e olhei pela janela. A Bruna estava pálida, seus olhos quase sem vida devido a falta de esperança de ser resgatada, a posição que ela se encontrava... Meu Deus era desconfortável só de olhar, não consigo imaginar o que ela passou durante as horas intermináveis que eu levei para chegar até o local. Ela me viu através de sua visão periférica, seus olhos rapidamente se iluminaram, tentava mover o pescoço, mas acredito que devido ao tempo que ficou parada naquela posição ele havia “travado”. A estaca que estava logo a baixo de sua garganta já estava quase a perfurando, havia um pouco de sangue escorrendo, acredito que ela havia levemente caído no sono alguns momentos e seu pescoço quase havia sido perfurado.

Mas o pior não era a situação dela. Era quase impossível de se ver a pintura do local, ele estava completamente pintado por sangue, o chão coberto por restos humanos, intestinos, órgãos, olhos, me lembro até mesmo de ter visto um pulmão jogado pelo chão. O cheiro que saía pela janela era tão pútrido e nojento que meu corpo chegava a tremer e minha garganta tentava expulsar de dentro de mim. Tinha cerca de 4 corpos nus pendurados iguais animais, estavam cortados de diversas formas e um deles estava com a barriga aberta, seu intestino estava pendurado de um modo que escorria sangue pelo rosto da pobre vítima desfalecida. Tinha outro que aparentava ser uma mulher, a visão dele me atormenta até os dias de hoje, sua pele havia sido tristemente arrancada do corpo, como fazem com animais para produzir vestimentas, era basicamente um pedaço de carne em formato de corpo humano. Nos cantos das paredes, eu via várias ferramentas cirúrgicas cobertas por sangue em cima de mesas de aço. Digamos que o fato de eu ter chamado aquele local de “abatedouro” seja eufemismo perto do que eu presenciei.

Também existiam 3 prateleiras gigantes que se alongavam do chão ao teto, em todas as divisões delas eram guardadas sacos de carne humana. Era uma nojeira total, não sei como eu conseguia olhar aquilo e manter o foco no plano. Mas acredito que isso tenha sido possível apenas por que já havia passado por muito coisa até tal momento, e a adrenalina estava correndo nas minhas veias.

Esgueirei-me pela janela e me pendurei pelo lado de dentro, não havia ninguém por perto para me ver, talvez estivessem acompanhando a “inspeção” que o Gabriel havia mentido ter ido fazer. Só depois de me pendurar eu percebi que estava a 5 metros do chão e não tinha onde cair de forma segura, minha única opção era me soltar, cair e tentar absorver o impacto com a perna.

Me soltei e caí rapidamente, senti um choque atingir a sola dos meus pés e dei um grito abafado pelas minhas mãos.

A Bruna estava me olhando implorando socorro pelos olhos, ela nem chorava mais, seus canais lacrimais já estavam secos.

Me arrastei até ela procurando fazer o mínimo de barulho possível, olhei para todos os cantos em busca de câmeras, mas aparentemente não havia nada do lado de dentro. Peguei a faca no meu bolso traseiro e cortei a corda das mãos da Bruna logo em seguida desamarrando o pano em sua boca.

Ela se levantou cambaleando e me abraçou bem forte, enquanto sussurrava em meus ouvidos “Estávamos te aguardando”.

Me afastei cambaleando devido a queda de poucos minutos atrás mas fui impedido por uma presença nas minhas costas, era o homem forte impedindo minha movimentação enquanto me segurava pelo pescoço.

O plano havia dado errado, estávamos fodidos. Gabriel estava com as mãos amarradas para trás enquanto tinha uma arma apontada para sua cabeça.

Bruna: “HAHA” riu histericamente com uma voz que com certeza não era feminina . “Acharam mesmo que podiam parar tudo isso? Que salvariam a garota que sequestramos? Qual é, vocês são ingênuos demais”, disse aquela.. Coisa enquanto babava de entusiasmo, seus olhos com toda certeza esboçavam felicidade.

Eu: “Que merda você é? O que está acontecendo?”

Bruna: “Porra, achei que já soubessem de tudo haha, humanos são burros demais. Não é óbvio? Você sabia que estávamos te observando na sua casa, e mesmo assim veio direto pro seu túmulo. Quando seu amado chegou no depósito, já estávamos a par do seu plano, por isso mantive apenas 2 homens aqui comigo, não era necessário reforço se havíamos previsto todos os seus passos. Fingimos atirar no Gabriel com o intuito de que assim você fugisse e tornasse as coisas mais interessantes, afinal lembra o que eu te disse? O medo deixa a carne mais saborosa.”.

Não sabia o que dizer, eu fui otário de não ter avisado o Gabriel que estávamos sendo observados de algum modo. Na verdade, eu não consigo pensar em um motivo plausível para não ter feito isso.

Eu: “Mas que merda você é? E porque fazem tudo isso?”

Bruna: “Acha mesmo que responderei todas as perguntas? Você vai ser morto já já, não tem porque eu te contar tudo. Ei, ele tem uma faca no bolso traseiro, pegue.”, senti uma mão removendo a faca de minha posse. “Então, o sobrenatural não pode ser explicado, a ciência possuí resposta apenas para coisas que cabem na compreensão humana, então digamos que você vá enlouquecer agora.”.

Aquela coisa pegou a minha faca e fez um corte que ia de seu braço direito até o esquerdo, de modo que atravessava o topo de sua cabeça. Então começou a abrir sua pele como se fosse um zíper, o corpo que antes era de minha melhor amiga estava sendo usado como um macacão por “aquilo”. De dentro de sua pele, saiu um demônio de porte totalmente incomum, era impossível que aquilo coubesse dentro da pele de Bruna. Sua aparência me dava mais nojo do que o local em que eu me encontrava, sua pele estava queimada, haviam pregos por quase todo o seu corpo, não tinha um rosto com olhos nem bocas, era totalmente plano e hexagonal, tinha patas de animal mas os dedos eram humanos, seu órgão genital havia sido totalmente cortado e era possível ver o saco escrotal triturado ainda pendurado. Ouvi o som do Gabriel vomitando no fundo enquanto murmurava repetidamente uma oração.

Eu: “Merda.. Como assim? Que caralho..”

Criatura: “Não tenho mais caralho, como pode ver foi cortado, digamos que foi um carinhoso presente de nosso amado pai Satan. Agora você vê? Não pode parar isso, nós estamos em todo o mundo e temos uma missão a cumprir.”. Enquanto ele falava, peguei a segunda faca que se encontrava dentro de minha cueca, uma forma alternativa de esconder caso precisasse, e me mantive imóvel, fingindo que estava sob controle do homem que me segurava pelo pescoço.

Criatura: “A ciência não poder explicar o sobrenatural é algo aceitável, mas você acha mesmo que as pessoas simplesmente desaparecem da face da terra e nunca mais são encontradas? Claro que não, nós ás pegamos e usamos para abastecer a raça humana com uma alimentação proteica proveniente de digamos... Uma fonte infinita de carne. Nós acabamos por nos alimentar também de seus restos, é uma pequena recompensa por todo este serviço.”.

Eu: “Mas porque fazem isso?”, eu disse tentando enrolar o máximo possível enquanto planejava o que fazer.

Criatura: “Nunca leu a bíblia meu jovem? Fazemos o que fazemos porque queremos, temos somente a intenção de corromper a humanidade. E recrutarmos alguns humanos para nos ajudar torna-os tão podres quanto a minha existência repugnante. Somos o novo reinado, a nova ordem mundial, a nova geração, nós somos a legião que irá corromper a existência humana e roubar o trono divino de Deus para que Satan reine o universo, uma nova era universal de sangue e desespero. Vocês não estarão a salvos nem quando morrerem, irão viver a eternidade em um sofrimento incessante, e posso afirmar meu caro, que o que você está vendo neste momento ao seu redor é o paraíso, quando comparado com o que te aguarda no pós vida. Isso é só o inicio do inferno na terra”.

Minha espinha arrepiou e um gelo atingiu meu corpo todo, fiquei paralisado alguns segundos. É sufocante pensar que nem quando estiver morto eu estarei livre desse pesadelo.

Criatura: “Cale a boca seu merda“, disse enquanto olhava para Gabriel que estava rezando evitando contato visual com o demônio na nossa frente. “A Bruna também rezou muito enquanto eu cortava sua pele”, comentou apontando para o corpo feminino sem pele pendurado em meio a outros 3.

Deixei lágrimas escorrerem pelo meu rosto, minha amiga estava morta pelas mãos de um demônio por minha culpa, eu a envolvi em tudo isso. Era culpa minha, talvez eu merecesse o inferno que me aguardava após a minha morte.

Mas, se eu ia mesmo morrer, iria morrer lutando. Eu sabia que o Gabriel não havia desistido de viver, nenhum de nós dois era religioso, na verdade fiquei impressionado que ele sabia rezar. Olhei para ele disfarçando desespero e fiz um sinal com a sobrancelha, eu tenho certeza que ele não havia entendido que eu ia iniciar uma luta e agiu apenas por instinto.

Saquei a faca e me virei contra o homem atrás de mim perfurando seu pescoço, sabia que era um golpe fatal. No mesmo instante o Gabriel golpeou o homem armado em seu sobaco, pegando a arma de sua mão e atirando em seu peito.

Eu sei que foi rápido e nem um pouco emocionante, mas a vida real é assim, não existe luta emocionante, as pessoas morrem facilmente e ponto.

Criatura: “HAHAHA e agora? O que farão? Vocês são tão tolos. Eram dois homens inocentes, eram obrigados a trabalhar para mim para manter suas famílias vivas. É isso o que eu quero, que se corrompam de todas as formas, ódio, assassinato, mentiras..”, disse enquanto olhava para mim de forma irônica.

Eu: “Sério? Sempre soube que demônios são seres celestiais obscuros, mas nunca imaginei que fossem burros também. Nós dois não somos religiosos, não estamos nem aí se formos corrompidos. Mas até onde sei, se morrermos por um bem maior, receberemos um perdão instantâneo de Deus não é? HAHAHAH, você pode nos matar, e mesmo assim perderá essa luta. Nossas almas serão salvas de qualquer modo.”.

Criatura: “Humanos são mesmo interessantes. A última vez que me senti assim, eu estava fazendo uma autopsia no corpo de seu presidente para que um dos 7 demônios mais fortes do inferno pudesse assumir o controle do país. Vocês se acham inteligentes, mas não entendem que a existência de vocês é apenas um pequeno detalhe que surgiu em meio a luta do céu contra o inferno.”.

Assustei quando vi sangue sendo expelido pelo rosto do demônio, Gabriel atirou bem na face daquela criatura. Olhei para trás,ele estava tremendo muito devido sua ansiedade, tinha dificuldades para respirar e não conseguia se mover. Peguei a arma de sua mão e deitei-o em cima de uns panos que se encontravam ali no chão.

Criatura: “Porra, eu não sou mais imortal, a raça humana nos torna vulneráveis. Porém me matar é inútil, se eu morrer vou para o inferno, e uma vez no inferno meu pai me mandará para a terra novamente. Digamos que eu posso renascer infinitas vezes HAHAHHA.”

Eu: “Você pode ter a imortalidade do seu lado, mas nós temos a vontade de viver, e isso por si só é maior do que tudo o que sua existência representa.”. Disse atirando várias vezes em seu rosto.

O sangue jorrava dos orifícios que as balas causaram e se misturava em meio ao sangue humano que cobria o chão do depósito.

Gabriel: “Caralho eu queria que isso tudo não fosse real, lutamos atoa, e agora temos que sobreviver tendo conhecimento diante de tudo isso.”.

Olhei para ele demonstrando pena, e esbocei um sorriso que ele entendeu que significava “vamos ficar bem”.

Saímos de dentro do local rapidamente, afinal aquela coisa com certeza voltaria em pouco tempo. Ele não tentou nos matar pois sabe que o medo em nossa alma irá nos tornar uma carne de primeira qualidade, quanto mais tempo permanecermos vivos, melhor será nossa qualidade para sermos consumidos. Porém não podemos morrer agora, temos que expor tudo o que sabemos para o mundo, eles tem a missão de corromper a humanidade e agora nós temos a missão de salvar todas as comunidades humanas.

Andamos alguns quarteirões até o carro, entramos e ficamos sentados alguns segundos olhando o sol nascer.

Eu: “Estamos na merda.”.

Gabriel: “Sempre estivemos.”.

Eu estava distraído perdido em meus pensamentos, não estava seguro em lugar nenhum, e naquela situação eu também não ficaria salvo por muito tempo caso eu morresse.

Agora chegamos nos dias atuais, hoje é dia 2 de Abril de 2019, temos tudo planejado para tentar recrutar uma pequena cidade ao lado de Assis, são poucos habitantes e se convencermos eles de que estamos falando a verdade, será fácil faze-los nos seguir e vencer essa guerra. O demônio estava errado, não somos algo inútil em meio a guerra travada entre o céu e o inferno, nós somos membros de um terceiro reino, um que não é representado por um deus bom ou mal, mas apenas pela vontade de viver.

Mesmo tendo tudo planejado, mesmo tendo feito cálculos e testado milhares de teorias no papel e na prática para realizarmos nossa expansão global. Não há certeza de que isso dará certo.

Este texto que você leu agora, é nosso chamado, apenas um meio de espalharmos os fatos e recrutarmos pessoas como você para nos ajudar a vencer essa guerra.

Somos apenas humanos, mas também somos um milagre jogado a deriva em um universo infinito.

Nós não estamos de fato vivos.

Estamos sobrevivendo a todo instante.
***

Escrito Por: Matheus Muniz
De: Não Entre Aqui

Envie sua Creepy ou relato pelo nosso formulário!!

Um comentário:

  1. Sério... Conspiração do inferno? Perdi meu tempo, meu sono, por isso? Amigos, a raça humana é mais assustadora do qualquer demônio. Ter feito a creeppy como se fosse uma possível e realística trama envolvendo pessoas maléficas e ambiciosas, que no fim é desbaratada, mas que realmente não termina, pois sempre existe um remanescente da podridão, teria sido muito mais excitante, do esse final tosco. Pô véi..A série tava tão boa, aí termina desse jeito. Foda..

    ResponderExcluir

O NEA agradece o seu contato, responderemos em breve!

Continue navegando pelo nosso blog e conheça nossas redes sociais
--------
https://www.facebook.com/naoentreaqui.blogspot
-------
https://www.instagram.com/nea.ofc/

Bottom Ad [Post Page]