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Novamente faltei da faculdade. Precisa ficar em casa e tentar compreender o que estava acontecendo, fiz diversas pesquisas e montei dezenas de fluxogramas na expectativa de que algo fizesse sentido. Todas as tentativas pareciam frustradas. Algumas coisa se conectavam, mas no final, elas nunca faziam sentido algum.

Fiquei cerca de horas sentado na cama pensando, imaginando, conectando tudo de diversas formas, naturais e sobrenaturais.

Afinal, porque diabos eu tinha tido paralisia do sono com 2 pessoas que eu nunca havia visto na minha vida? Será que queriam me dizer alguma coisa? Não, a Gabriela tentou me sufocar. Ela não queria me dizer algo, queria remover a vida do meu corpo.

Eu precisava de um café, não podia dormir apesar de ter a hipótese de toda vez que eu sonho recebo novas pistas do que está acontecendo.

Passei pela porta do quarto, e caminhei descalço pelo chão frio até a cafeteira, enchi uma xícara de café que havia ganho de natal de minha mãe 1 mês atrás. Era vermelha e branca, com um rosto sorridente de papel Noel estampado nela. Olhei por alguns segundos e me deu uma certa tranquilidade na alma, saber que lá fora, em outra cidade, estão meus pais, seguros e provavelmente rindo cuidando do meu sobrinho enquanto minha irmã está no trabalho.

 Meu pai era o bobo da corte da família, só fazia tonteira para animar todos. Todos os dias, absolutamente todos os dias, ele mandava um áudio no grupo da família fingindo ser um homem que consegue ler os astros e dizer o seu destino, se autodenominava como “Sempre Alerta”. Meu pai era um homem incrível, minha mãe havia passado por um câncer muito forte no seio direito, e meu pai esteve do lado dela 24 horas por dia a fazendo sorrir de modo que esquecesse que parte do seu corpo havia sido removida abruptamente e tivera afetado drasticamente sua autoestima. Minha mãe não olhava mais nos espelhos, era perceptível o quanto tudo aquilo afetava ela, mas nunca a vi sem um sorriso no rosto.

 Minha irmã esteve grávida uma vez antes de ter meu sobrinho, ela e seu marido compraram várias coisas para o bebê, mas do nada, tão subitamente, ela sofreu um aborto espontâneo. Não sei como, mas ela se manteve muito forte, eu fiquei com muito medo dela entrar em depressão ou coisa assim, já que ter um filho sempre foi seu sonho, mas ela apenas sorriu e disse que em breve iria tentar de novo.

Pensando em tudo o que eu e minha família passamos, percebo o quão forte nós somos. Nada nos para e nada tira o sorriso estampado em nossos rostos. Eu amo muito todos eles.

Tomo um gole do meu café e uma forte luz bate em meu rosto, levo um pequeno susto quando olho para a janela da cozinha e vejo o sol nascendo. Estava na hora de ir trabalhar novamente e nem vi o tempo passar.

Chegando no escritório, vi o Rodrigo bem sério, suas feições pareciam acabadas demais para um homem de 38 anos. Como se ele não tivesse dormido por pelo menos 2 noites e estivesse tendo que trabalhar o dobro de sua carga horária.

Ele encarava um copo d’água sobre sua mesa, me viu entrar e começou a falar comigo:

Rodrigo: “Sabe, as pessoas acham que eu sou burro de carga delas. Eu faço tudo aqui. Eles sabem que não tenho onde guardar os bens irreversíveis que eles danificam, e querem que eu dê um jeito”.

Eu: “Irreversiveis?”

Rodrigo: “Sim, são bens comuns, como mesas, cadeiras, computadores, mas sempre danificados. Tinhamos um depósito nos fundos daqui que chamávamos de “Shopping”, guardávamos todas essas coisas lá até segunda ordem para descarte desses lixos. Mas aconteceu um acidente, certo dia nosso segurança daqui estava monitorando a área durante a madrugada, e de algum modo ele incendiou o local. Porém, em meio os escombros, encontraram dois corpos, o dele e o de um idoso.”.

Tentei ignorar completamente o fato dele ter dito “bens comuns”. Haviam bens incomuns então? Pessoas? Esse incêndio matou um homem inocente, mas quem era?

Eu: “Que horrível, não descobriram quem era o idoso por conta do estado do corpo?”

Rodrigo: “Descobriram sim, era o de um senhor de 70 anos que estava desaparecido dias antes do incidente. Não conseguiram determinar porque ele estava ali naquele momento, mas concluíram que devido a doença mental que ele possuía, deve ter se perdido”.

Eu: “Mas isso aconteceu que horas mais ou menos? Um idoso não estaria ali de madrugada né?”

Rodrigo: “Correto. Aconteceu 5:32 da manhã. Era a hora que ele costumava acordar e ir até a padaria de acordo com a filha dele.”

Então repentinamente Rafael abre a porta da sala como se o destino dele dependesse disso, Rodrigo olha pra ele sem entender nada, e então Rafa diz:

Rafa:”Preciso falar com você, AGORA!”

Fiquei ali fingindo demência enquanto meu chefe se dirigia para fora da sala.

Era claro então, Onorico havia falecido também na mesma hora em que ocorreu minha paralisia do sono, mesmo que anos antes. Isso já era fato. Mas o que havia de novo agora, é o fato do incêndio. Durante meu pesadelo, eu senti um calor enorme no quarto e vi uma luz que não conseguia determinar a fonte. Era o fogo.

Mas porque Onorico estava lá? O que ele estava fazendo no depósito? Ele não era completamente louco, tenho certeza que ele tentou contar sua história para sua filha e ela não acreditou.

Então eu já sabia meu próximo passo. Deveria encontrar a filha dele.

Rodrigo abriu a porta com força rudemente, olhou diretamente nos meus olhos com um ódio que gelou minha espinha, eu parei instantaneamente de respirar e sentia que meu coração ia sair pela minha boca. Ele então soltou uma voz tão grotesca que nem se quer parecia que era humana mais.

Rodrigo: “VOCÊ... SAIA DAQUI! ESTÁ DEMITIDO!”

Peguei rapidamente meu celular de cima da mesa, não falei absolutamente nada, apenas me levantei e me retirei do local de cabeça totalmente baixa. O que diabos havia acontecido? Eu não havia feito nada demais. Concluí que talvez fosse porque eu questionei demais o incidente que ele estava me contando, e sentiu que a segurança de suas operações ilícitas estava em risco.

Cheguei em casa mais cedo, me deitei olhando os fluxogramas que havia montado durante minha noite em claro, e me perdi em pensamentos do que possivelmente tinha acontecido no trabalho. Resolvi ignorar e me preocupar com isso depois.

Abri a internet no celular e pesquisei pelo senhor Onorico na expectativa de encontrar informações sobre sua filha. E obtive algo muito melhor. Igual todo artigo de desaparecimento, estava no fim da postagem o número de celular pra contato com parentes da pessoa.

Salvei o número em meu celular e comecei a racionar como faria minha abordagem, não podia só ligar e falar “eae mana, o que seu velho te falava antes de morrer lá no fogaréu?”. Eu deveria ser delicado e calcular minhas palavras.

Fui até a cozinha e peguei a faca pra cortar um pão que estava em cima da mesa, acho que ansiedade me dá fome.

Durante esse meio tempo em que eu estava sem fazer nada, recebi uma notificação de mensagem da Bruna. Era uma imagem anexada.

Abri relutantemente, porque nos últimos dias, só havia recebido notícias ruins.

Meu coração parou por o que pareceu ser uma eternidade, meus pulmões estavam densos e meu estômago estava se revirando como se estivesse vivo, minha sorte é que eu não havia comido nada ainda para vomitar.

Na imagem estava Bruna, em pé com a cabeça erguida em 90 graus, logo abaixo do seu queixo tinha uma estaca, que ameaçava perfurar sua garganta caso ela abaixasse a cabeça. E em seu rosto, próximo de seus olhos molhados por lágrimas que me faziam sentir sua dor, estava o símbolo da prefeitura com uma pequena flecha quebrada no canto.

Porra, ela era minha melhor amiga, eu tinha que fazer alguma coisa. Eu tinha que salvá-la, sabendo que não tinha muito tempo, eu deveria dar um jeito de descobrir onde ela está. Agora com provas plausíveis em mãos, eu iria contatar a polícia.

Bruna está digitando...

Bruna: “Você não pode impedir algo que não é de sua compreensão. As autoridades estão conosco. Você, Matheus, você está sozinho.”

Eu: “QUE MERDA VOCÊ ESTÁ FAZENDO, EU VOU EXPOR ESSA PORRA TODA PRA TODOS LÁ FORA SEUS FILHOS DA PUTA”.

Bruna: “Largue essa faca e venha nos encontrar. Não vamos te matar agora e tão rápido, o medo deixa a carne mais saborosa.”

Nesse momento eu congelei. Estava sozinho em minha casa, como ele sabia que eu estava segurando uma faca?

***

Leia Mais: Eu não como mais carne - Parte 6
Escrito Por: Matheus Muniz
De: Não Entre Aqui

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