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(Google Imagens)
Enquanto a brisa suave da noite balançava as folhas dos carvalhos altos e imponentes, um ser escuro surgiu por entre as sombras das árvores.

William estava sentado na grama, suas costas recostadas em uma grande pedra que havia achado perto do lago escuro atrás de si. O mesmo vento que balançou as folhas das árvores roçou agora em seus cabelos. Longos, dourados e brilhantes, eles caíam em seus ombros num estilo elegante. A brisa balançou-os e levou uma mecha aos seus olhos. Ele não se preocupou em tirá-la, somente fechou seus olhos claros e ouviu atentamente o farfalhar das folhas sendo levadas pelo vento. Ao abri-los, percebeu algo que não estava lá antes; um pássaro.

Lentamente, William se levantou. Primeiro apoiou uma das mãos num joelho, equilibrou-se e, então, se ergueu, sacudindo a terra e a grama que havia grudado em sua roupa; porém, sem tirar os olhos do pássaro - que nem se mexera. Will permaneceu parado, aguardando uma reação da estranha ave. Enquanto esperava, examinou-a com os olhos.

Era uma bela ave, ao menos para ele. Ela tinha as penas lustrosas, escuras como a noite, e um bico afiado, perigoso, igualmente negro. Havia uma pequena cicatriz na perna esquerda. O animal parecia uma sombra; parada, iluminada somente pela luz prateada da Lua. Então, em um curto momento, a ave se mexeu. William piscou para ela, havia esquecido que ele mesmo estava ali.

Ficara tão extasiado contemplando a ave que se esquecera de si mesmo; esquecera que existia. Ele deu um passo, e a ave se mexeu novamente. Estavam distantes, mas ele queria chegar mais perto. Temeroso de assustar o pássaro, ele parou de se mexer. Como se percebesse a deixa, a ave começou a dar pequenos pulos em direção ao Will. Ao chegar razoavelmente perto, ela abriu as asas e, com um impulso, voou.

Will olhou, maravilhado, para a ave que flutuava no céu negro. Não seria possível vê-la se o céu não estivesse tão estrelado naquela noite. E a Lua... estava mais bela e brilhante do que nunca.

A ave voou pelo céu como uma flecha negra cortando o vento, iluminada pela luz das estrelas. Ela então mirou o lago, e despencou em um voo rasante por sobre as águas. Elas se moveram em delicadas ondas se formando enquanto o pássaro batia suas asas.

Aquele lago parecia um espelho, refletindo o céu como ele estava naquela maravilhosa noite brilhante. Somente a Lua que, nele, era distorcida pelo movimento das águas. A ave subiu novamente e ganhou altitude. Ela sobrevoou William, que não tirava seus olhos dela e, com um bater mais forte das asas, voou diretamente para entre as árvores na floresta.

- Não! - Ele gritou, como se o pássaro pudesse lhe ouvir. Sentiu-se decepcionado.

A ave sumira por entre as folhas das árvores, mas deixara uma lembrança gloriosa. Will nunca havia visto uma ave tão bela antes, até que uma luz se acendeu em sua memória como uma vela num quarto coberto pela escuridão. Aquele pássaro era um corvo.

Como podia um corvo ser tão belo? Ele sempre vira corvos em todos os lugares pelos quais passava, mas nunca um tão belo, e tão... especial como aquele.

Com estes pensamentos, ele deu meia-volta e andou para onde estava sentado antes de aquele corvo aparecer. Ele sentou-se, encostou as costas na pedra lisa e soltou um longo suspiro.

Corvos são maus presságios, pensou consigo mesmo. Presságios de morte.

Ele fechou os olhos novamente, e tentou relaxar.

Pôde ouvir as águas do lago escuro balançando, formando pequenas ondas, e as folhas das árvores caindo com a brisa que se tornara mais forte. De repente, ouviu passos. Ele franziu o cenho, mas não abriu os olhos. Eram passos firmes, mas delicados, suaves. Pareciam ser passos de uma mulher, resoluta e determinada. Os passos cessaram ao longe, e recomeçaram mais rápidos dessa vez; estavam se aproximando. Mais, e mais, e cessaram novamente. Só que, desta vez, próximo às árvores em que o corvo havia sumido. Curioso, William abriu os olhos.

Ele olhou em volta, mas não havia ninguém além dele. Estranho, pensou. Eu poderia jurar que ouvi passos...

Como se escutasse seus pensamentos, alguém deu um passo à frente entre as árvores, saindo da escuridão que se formava entre elas. O vento aumentou ligeiramente e soprou a barra de seu vestido branco, balançando-o de forma graciosa.

William parou completamente imóvel onde estava. Aquele era, de fato, um dia de surpresas.




 Escrito por: Milena Câmara
De: Não Entre Aqui
Confira aqui a segunda parte

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