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Confira aqui a Primeira Parte
(Google Imagens)
Congelado, ele apenas olhou para a moça à sua frente, que retribuiu o olhar. Ela estava no local onde o corvo desaparecera, iluminada pela luz prateada da Lua e das estrelas, como ele estava. O vento soprou novamente, e dessa vez não levou só a barra de seu vestido como também esvoaçou seus cabelos. Eles eram estranhamente parecidos com as penas do corvo. Negros e lustrosos, eles chegavam a emanar um brilho azulado, surreal. Se estendiam por toda a sua coluna, dobrando-se em volumosos cachos nas pontas. Sua pele era clara, pálida, em um total contraste com os seus cabelos.

Ele correu seus olhos pelos ombros da garota, expostos pelas ausentes mangas do vestido, e desceu-os para seus braços. As mãos estavam cobertas por luvas negras de renda que iam até o pulso, terminando em uma dobra. A pele dela aparentava ser macia e, por um segundo, William achou ter sentido um perfume sendo exalado por ela. Uma fragrância úmida, mas agradável, parecida com o sereno emanado na noite que dá forma às gotas de orvalho. Aquele cheiro não estava lá antes. A mulher se mexeu, deu um passo curto para o lado, e inclinou levemente a cabeça para baixo, ainda olhando para ele. Ela parecia estar examinando-o com os olhos. Somente agora Will reparou no rosto da moça.

Ela era jovem, não devia ter mais do que dezenove anos. A pele de seu rosto era mais pálida que a do corpo, seu nariz era afilado e pequeno, de um jeito delicado. Seus olhos, negros como os seus cabelos. Os dois pareciam um retrato do céu daquela noite; escuro e brilhante. Seus lábios eram escarlates, volumosos. Então eles se abriram em um sorriso. O rosto, repleto de traços finos e delicados. Ele sorriu de volta para ela, e achou que aquela havia sido uma oportunidade de se aproximar e de se apresentar à jovem. Obstinado, ele começou a andar em direção a ela. Seus sapatos fazendo barulho na terra, quando percebeu que a moça estava descalça. Àquela hora da noite o chão devia estar úmido e gelado.

Ele pensou sobre como ela suportava aquele frio nos pés, e logo pensou em perguntar, mas achou melhor não. Estava se aproximando. Abandonou todos esses pensamentos de sua cabeça e parou em frente a ela. O perfume havia se intensificado. Os dois permaneceram calados e imóveis durante um longo tempo, apenas olhando um para o outro. William achava conhecê-la, não se lembrava de onde, mas é como se já a houvesse visto antes.

- Lilith - Ela disse com sua voz suave e aveludada, límpida como cristal.

- O quê? - Perguntou William, como se houvesse acordado de um transe. Sentiu-se tonto, e logo percebeu o quão idiota deveria estar parecendo.

- Meu nome - Ela sorriu novamente - Sou Lilith.

- Ah, claro - Ele sorriu meio bobo para ela -, eu sou William, prazer em conhecê-la.

Ele fez uma reverência e ela sorriu timidamente para ele.

- O prazer é todo meu - Disse Lilith, com o mesmo sorriso ainda nos lábios.

- Então... - Ele começou a andar, lentamente, em direção ao lago, conduzindo-a do seu lado - posso saber o que uma jovem tão delicada faz por aqui, à noite, descalça, e com um frio desses?

Dessa vez ela riu. Um som agradável, encantador.

- Eu estava perdida - Ela parou, e abraçou a si mesma. William percebeu que, apesar de jovem, seu corpo já aparentava ser o de uma adulta. Traços e curvas marcantes. - Estava com minha irmã, à tarde, passeando por uma trilha, quando fomos distraídas por um animal.

- Um animal? - Ele repetiu curioso e um pouco incrédulo. Não havia animais naquela mata além de alguns pássaros.

- Sim. Um pássaro, na verdade. Ele era muito bonito. Tinha as penas escuras, e um bico pronto para matar. Era muito afiado.

William se lembrou do corvo que havia visto há alguns minutos; ou teriam sido horas?

- Ele estava no galho de uma árvore, então paramos para observá-lo. Ele voou, e corremos atrás dele. Não queríamos perdê-lo de vista.

- Você se recorda se ele tinha alguma peculiaridade, algum ferimento ou cicatriz, talvez? - Ele perguntou, sentindo uma sensação estranha, parecia que algo ruim não tardaria a acontecer.

Ela balançou a cabeça afirmativamente. O coração de William pulsou.

- Lembro-me bem dele - Ela disse com a voz um pouco distante, como se estivesse tentando puxar uma lembrança - Acho que tinha uma cicatriz pequena na perna esquerda. Sim, tinha sim.


Ela observou a expressão nervosa que havia se formado no rosto dele.



 Escrito por: Milena Câmara
De: Não Entre Aqui
Leia aqui a terceira e última parte!

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