Tentei me erguer, mas meu corpo parecia não responder aos
meus desesperados comandos.
Tentei mover um dedo, apenas um único dedo de uma das
minhas mãos... Nenhum deles se movia! Meus olhos não giravam em suas órbitas;
sequer se abriam. Minha boca estava ligeiramente aberta, a língua rígida e seca
com o tempo que eu passara ali, sentado contra algo gelado, no chão frio ao
escuro céu noturno, e em pleno inverno...
Mas que
coração inútil! Por que não cessa? Por que não me deixa descansar, por que não
para de bater? Por quê?... A morte é quente, tão quente, mas está fria, tão
fria...
Tão fria...
Ouço minha
respiração. Sinto o ar denso e gélido entrando rapidamente em meus pulmões. Rápida,
porém dolorosamente... Eu ouço o bater veloz e descompassado de meu coração,
meu inútil coração. Ele bate, bate, bate... Primeiro se expande, depois diminui
seu tamanho. Por que ainda não congelou? Deveria estar parado agora! Murcho,
retraído e arroxeado, igual a uma ameixa seca!...
Quando
respiro, posso ouvir um som sendo emitido de minha garganta. É o ar frio que,
ao passar em seu doloroso rastro, faz com que minhas cordas vocais vibrem sem meu
consentimento. Eu não queria isso, ninguém pode saber que estou aqui...
Embora meu
corpo esteja congelado, minha mente está a mil. Ela ferve, posso sentir o vapor
se elevando de minha cabeça, passando pelos fios quebradiços... É quente e
agradável, não posso parar de pensar, os pensamentos me aquecem...
Não são
mais pensamentos, é a chuva! Ela é quente, é ardente, é calorosa... Agradável e
esplendorosa! Salvou-me do inferno de gelo e frio que era a vida, agora a morte
me aquece; sou envolvido por seus braços quentes e macios... Sinto o vapor
erguer-se ao meu redor. Ele faz as paredes suarem, o chão derreter-se... O chão
parece líquido, sinto-me envolto por uma atmosfera liquefeita, mista de frio e
calor... É a morte que briga por mim, é ela que, esperançosa, luta pela minha
alma contra a vida invernosa. A morte me aquece, é tão quente, tão quente...
Aquecia-me.
Uma maldita ventania levou embora todos os meus devaneios! Como pode um vento
tão forte ter entrado... Sei que já é de noite e que estou nesta banheira desde
manhã, dormi aqui durante a tarde e a água está gelada, as luzes apagadas... Abri
o chuveiro quente agora há pouco; afinal, estava tão frio... Mas por que, em sã
consciência, eu tive de abrir a porcaria da janela em pleno inverno?! A janela
estava fechada, tenho plena certeza disso...
Há somente
uma explicação. Pavorosa verdade, curiosa e terrível premissa cruel...
There you go, uma historinha do jeito que eu gosto! Heheh (^-^)
Primeiro você imagina uma coisa, e então BAM! Não tem
nada a ver com nada. Perdoem-me a ousadia do nonsense...
Mas há umas belas metáforas aí, alguém consegue
interpretar o pequeno conto? Fica o desafio.
Escrito por: Milena Câmara
De: Não Entre Aqui
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