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Era uma tarde nublada, sem previsão de chuva, 27°C.Tudo normal. Eu estava indo para casa do meu melhor amigo Renato passar a tarde assistindo alguns filmes. Passamos esses últimos dias estudando igual condenados para bendita prova de química, a qual eu tenho certeza que tirei uma boa nota. Mas o stress ainda corria por nossas veias. Então resolvemos tirar essa tarde de sexta pra descansar os neurônios, e nada como um bom filme de aventura e comédia ao lado um enorme balde de pipoca e uma garrafa de coca-cola pra relaxar os nervos. Os pais do Renato só voltavam a noite do trabalho, então teríamos a casa toda pra gente.

Logo que cheguei à frente da porta da casa dele eu estranhei um pouco. Sempre que o Sr. Gustavo e a Sra. Carla não estão em casa, o Renato costuma deixar o paredão tocando solto pra Deus e os quatro cantos da Terra ouvirem as músicas de Rock dele. Mas não tinha som nenhum vindo da casa. Pra falar a verdade, todo o quarteirão estava muito quieto hoje. Hum… talvez os vizinhos estejam cansados hoje e resolveram apenas tirar um cochilo. Quem sabe…


*Toco a campainha e espero*


Nada.


*Toco outra vez*


Nada..


*Aperto a campainha novamente*


Nada...


Será que ele não tá em casa? Mas a gente combinou e eu mandei mensagem pra ele dizendo a hora que eu ia chegar.

*A porta abre lentamente*

“Amanda? O que foi?”


“Eu que te pergunto!” - Ele me olha sem entender. - “Porque demorou tanto pra abrir a porta? Esqueceu que eu vinha?”


“Não é que…” - Ele coça a cabeça tentando encontrar uma desculpa. “Eu não ouvi a campainha, foi só isso.”


Como assim ele não ouviu? Literalmente o único barulho que se podia ouvir era o da campainha, já que hoje está tudo muito quieto por aqui. Bom, vai ver ele tava com fone de ouvido.

“Uhum sei.” - Renato estava meio pálido e tinha rasas olheiras embaixo dos olhos desfocados. Ele não estava assim hoje de manhã na escola. “Você tá bem? Parece doente.”


“Eu tô bem, não se preocupa.” - Ele disse sorrindo. “Só estou cansado, nada de mais”. - Ele pousa a palma da mão na testa. - “Vem entra.”

Ele adentra lentamente a casa me deixando na porta. O sigo até a sala de estar onde ele já se acomodava no grande sofá marrom de frente para a TV e segurava nas mãos um balde de pipoca. A mochila preta dele ainda estava jogada desleixadamente no outro sofá menor, onde me sentei.


Ele ficou estranho por um tempo, tipo, ele tava com a pipoca, mas não tava comendo. Tava com uma das mãos no controle da TV, mas não a ligava. Além de ficar olhando pra televisão desligada em nenhum ponto específico, apenas fixando o olhar melancólico na direção dela.


Movi minhas mãos perto do rosto dele.


“Oooii. Acorda pra vida.” - Ele piscou os olhos e me olhou confuso. - “Renato é sério, se você não estiver se sentindo bem eu volto outro dia e deixo você descansando, já que parece que você tá dormindo com os olhos abertos.”


“Não, não hehe. Só tô me sentindo um pouco cansado, mas não é nada. Deve ser porque eu estudei a madrugada toda pra prova. É a vida de quem só estuda na última hora sabe? Haha...” - Assim que termina de se explicar ele liga a Tv e coloca na Netflix. Mesmo assim continuo preocupada. Afinal, ele é meu melhor amigo. Nos conhecemos desde o jardim de infância.


Do jeito que ele tá provavelmente vai dormir na metade do filme.

“Que tal esse Amanda?”


“Mogli?”


“Ah você sabe. É meu favorito!”


“Beleza, Mogli aí vamos nós”. - Falei me ajeitando no sofá.


“Droga! Falta o refrigerante” - Afirmou.


“Eu pego. Não precisa me esperar, pode dar play no filme.” - Me levantei e fui atrás do refri.

A sala de estar dava acesso à outra sala onde ficava a geladeira e também dava acesso ao quarto dele, e quando passei na frente, vi que a porta do quarto estava entreaberta, quase fechada. Como sempre, o taco de beisebol descansava encostado na parede de fora do quarto. Ele nem gosta de beisebol, por que ele tem um taco?


Hum.

Abri a geladeira.


Que ótimo! Não vi nenhuma coca, nem guaraná, nem fanta e muito menos suco. Só umas latinhas de cerveja do Sr. Gustavo. Nem eu e nem o Renato bebemos cerveja.


Engraçado, o idiota do Renato mora aqui e não sabe se tem ou não refrigerante pra gente lanchar. Tudo bem.


Fechei a geladeira e pensei em talvez fazer café.

Café com pipoca? Oxe, por que não?

De repente ouvi um barulho vindo do quarto do Renato.


Foi como se algo pesado tivesse caído na cama dele. Eu sei disso porque a cama dele faz um rangido na madeira sempre que alguém se mexe nela.

Ué? Mas não tinha só nós dois nessa casa? Eita, seria alguma namorada secreta dele que ficou o dia todo no quarto porque tava cansada de “estudar” com ele a noite toda? Haha claro que não. Eu e minhas paranoias...

Por curiosidade fui ver a causa daquele barulho. Óbvio.


Por algum motivo me aproximei cautelosamente do quarto com um frio na barriga. Abri lentamente a porta enquanto ouvia Renato rir de alguma coisa sobre o filme na sala.


O quarto estava um pouco escuro, as cortinas estavam fechadas. Mas dava pra enxergar as coisas ainda. Estava quase alcançando o interruptor...


Foi quando eu vi.


Dava pra ver nitidamente a silhueta de alguém deitado de costas na cama. Mesmo estando o quarto meio escuro. Parecia usar uma espécie de pijama branco.

Mas que merda tava acontecendo aqui?


Não ousei acender a luz, vai que a claridade acorda quem quer que seja deitado ali? Eu estava assustada com aquela situação.

Do nada. Esse alguém ergueu seu tronco de uma vez, me dando um leve susto pela ação repentina.


Ainda sentado na cama ele virou a cabeça na minha direção exibindo um sorriso monstruosamente largo em sua face, os olhos com as pupilas extremamente dilatadas, deixando seus olhos azuis quase que totalmente pretos, olhando fixamente pra mim.

N-Não pode ser…

Era o Renato.

Meu coração acelerou.
Meu sangue gelou.


“R-Renato?” - Minha voz saiu involuntariamente trêmula quase inaudível.

Eu estou tremendo.
Minha temperatura caiu drasticamente.

NÃO! NÃO! Eu só posso estar louca!

Ele finalmente fica de pé, ainda olhando fixamente nos meus olhos. Era como se seu olhar pudesse arrancar minha alma num piscar de olhos.

“Vem logo Amanda, tá perdendo o filme!” - Renato me chama da sala me tirando do transe em que eu estava. Soltei de uma vez o ar dos meus pulmões, percebendo que havia prendido a respiração.

Saí desesperada trancando a porta com toda força que eu tinha. E paro na frente do Renato. O verdadeiro Renato.

“Nossa Amanda, o que..”


“RENATO O QUE É ISSO? PELO AMOR DE DEUS! O QUE TÁ ACONTECENDO??” - Grito já quase chorando,


“Do que você tá falando?” - Ele se levanta preocupado.


“Eu vi você levantando da cama, mas não era você! Ele é um monstro!” - Falo pondo minhas mãos na cabeça graças ao nervosismo.


“Quem?”


“Você! Quer dizer, não você, é… uma coisa que parece contigo mas é maligno. Eu, eu… Vamos embora daqui Renato!”


“Você deve tá maluca, não tem ninguém no meu quarto. Só pode ser brincadeira sua.”


“EU TÔ COM CARA DE QUEM TÁ BRINCANDO? TEM UMA COISA RUIM LÁ! EU NÃO TÔ MALUCA!” - Lágrimas desciam pelo meu rosto gelado enquanto eu me aproximava do meu amigo. - “Por favor, vamos sair daqui! Eu te imploro!” - Falo pondo minhas mãos em seus ombros e o olhando nos olhos.


“Mas eu juro Amanda, não tem nada ali. Olha, eu vou provar”. - Ele virou na direção do quarto mas segurei fortemente em seu braço.


“NÃO! POR FAVOR NÃO! EU NÃO SEI O QUE AQUELA COISA É MAS ELE VAI TE MATAR!” - Eu tava a ponto de ter uma parada cardíaca e já não estava pensando direito.


“Você deve ter ficado nervosa com alguma coisa e por isso imaginou que eu tava na cama, não era você que queria que eu fosse descansar? Deve ter me imaginado lá, só isso.” - Ele passa a mão na minha cabeça. - “Tá tudo bem.”


“Renato eu não tava imaginando, eu vi!”

De repente me vem à cabeça que a “ilusão” não disse uma palavra enquanto eu estava lá. Será que eu tô mesmo vendo coisas? Minha mente estava abusando da imaginação me fazendo ver aquilo? Mas não é possivel. Aquilo era bizarro demais.

Meu peito já estava doendo de tanto que meu coração batia forte e incessantemente amedrontado.

“Olha, uma hora ou outra eu vou ter que entrar no meu quarto.” - Ele pega o bastão de beisebol que tava encostado na parede. - “Eu vou armado.”

Ou ele estava sendo muito corajoso, ou muito burro, ou simplesmente não acreditava em mim depois de tudo que eu havia dito. O fato é que ele já havia destrancado a porta e já estava abrindo-a quando eu contestei.

“NÃO FAZ ISSO!”


Ele havia entrado segurando fortemente o taco.

Desejei que meu coração parasse de bater agora, pra não sentir mais meu peito doendo.

Felizmente, eu me acalmei um pouco depois que o Renato caminhou pelo quarto e disse não estar vendo nada estranho.

“Pode entrar Amanda, não tem nenhum monstro aqui.” - Falou sorrindo enquanto abria as cortinas, clareando o quarto, e eu, me forcei a chegar mais perto.

Entrei já olhando pra esquerda, onde a cama ficava. Eh… parece normal.

“Viu? Nada com o que se preocupar. Ele não tá na cama e nem debaixo dela hehe.”


Eu me virei pronta pra voltar pra sala, quando eu olhei pro espelho da parede oposta à parede da cama. O demônio tava atrás do meu amigo.

“RENATO!”

Foi só o que eu pude dizer antes de ver, ainda pelo espelho, aquela coisa pondo as mãos na cabeça do Renato, e ao me virar eu vi o corpo dele caindo no chão, num baque seco. O taco de beisebol rolou até a parede da janela.

Meu grito ecoou os quatro cantos daquele quarto enquanto eu caía de joelhos diante do corpo do meu melhor amigo, agora sem vida… Eu chorava tocando com as mãos trêmulas seu rosto cansado, sentindo sua pele esfriar. Mesmo minhas lágrimas quentes molhando seu rosto não foram capazes de aquecer a pele dele.

Eu nem sequer olhei no rosto daquele maldito que fez isso com meu amigo. Eu ainda estava com medo.


Renato foi ficando com a pele cada vez mais fria e suave, até que eu não o sentia mais. Ele estava desaparecendo.

Cada vez mais...


E meu choro aumentava.

“NÃO, NÃO, NÃO!”

Até que ele se foi...

Ele simplesmente deixou de existir bem na minha frente…

“R-Renato?” Minhas lágrimas agora molhavam o chão onde ele estava deitado. Ele desapareceu. “Não Renato… por favor meu Deus!”

Uma mão fria toca meu ombro.

“Eu estou bem aqui Amanda.”


“ME LARGA!” - Eu dei um pulo para trás. - “Seu monstro maldito! Por que você matou ele? Por que o Renato desapareceu?”


“Porque ele não aguentou. Haha. Eu já havia drenado a maior parte do espírito dele a algum tempo, por que você acha que ele tava doente? Agora que eu consegui tudo, eu estou vivo!”

Ele veio lentamente com aquele maldito sorriso macabro no rosto, me encurralando no canto da parede.

“Eu não sou mais uma manifestação das sombras. Agora eu sou real!” - Ele pegou um estilete que tinha no bolso. - “EU SOU REAL!”

Ele levou a lâmina até o braço esquerdo um pouco abaixo do pulso, encravou a lâmina lá e desceu o estilete fazendo um longo corte reto.

Cobri meus olhos, mas não adiantou, o sangue dele respingou na minha cara. A roupa que ele usava totalmente branca, agora estava estampada de um vermelho escarlate cremoso.

Ele segurou uma parte do sangue nas mãos e jogou sobre a minha cabeça, como se estivesse brincando, para mostrar superioridade.

Monstro...

Ele ria de tudo aquilo, do sangue escorrendo pelo braço, da minha expressão de horror e náusea, de como ele brincava com o próprio sangue.

Eu não quero mais ver isso…


Eu quero ir embora…


Eu quero acordar da porra desse pesadelo!

Num momento de distração, tentei correr pra porta, mas ele me segurou pelo braço.


“ME SOLTA SEU FILHO DA PUTA! MONSTRO MALDITO! ME LARGA!”

“Está assustada garota? Não precisa ter medo, eu não vou te machucar. O que tinha que ser feito eu já fiz. Eu só queria a vida dele.” - Ele olha pra onde o Renato estaria se ainda estivesse ali. Eu percebi que estava chorando de novo.

Aterrorizada… Sozinha… Quebrada… Furiosa...


“SAI DE PERTO DE MIM!” - Consegui com toda força do meu ódio me soltar dele. Corri pela casa, abri a porta da frente e fugi sem rumo.

Eu corri, corri, corri… até minhas pernas não aguentarem mais.

As pessoas na rua se afastavam de mim quando me viam. Outras perguntavam se eu precisava de ajuda. Eu só as ignorava. Ninguém podia me ajudar.

E por que...?


Porque uma criatura tirou a vida do meu melhor amigo na minha frente, e agora vai viver a vida dele. E ninguém nunca vai saber que aquela coisa na verdade é um impostor. O verdadeiro Renato está morto. Eu não pude salvá-lo…

………………….

A água da banheira já está gelada. Eu estou aqui faz… nem sei quantas horas. Depois que cheguei em casa só entrei aqui ainda de roupa. Nem consigo mais chorar, acho que meus olhos não aguentariam todo o sal das lágrimas que eu ainda queria derramar.

“Nunca mais quero ver aquele monstro.”

Como tudo isso foi acontecer? Eu nem posso contar isso a ninguém porque não tem como eles acreditarem. Afinal, a pessoa está lá, mesmo não sendo ela de verdade. Mas ninguém entenderia, até eu acho estou louca...

Me pergunto se existem outras pessoas que já não são elas mesmas. Outros impostores...

Eu tenho medo que... aja um impostor no meu dia a dia e eu não saiba, ou que tenha um querendo tomar o meu lugar. Vou ter que conviver com isso.

Um dia você está feliz vendo seu filme favorito, e no outro você está morto e ninguém nunca saberá...



Escrito por: Ravena
De: Não Entre Aqui

4 comentários:

  1. 😱😱😱MDS !!!
    Incrível, me encontrei em seu texto .
    Vc conseguiu até msm descrever com riqueza de detalhes o meu sonho .
    Tá de parabéns, realmente maravilhoso.

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    Respostas
    1. Eita Amanda valeu doida 😎👍
      Mesmo eu não escrevendo exatamente esse teu pesadelo, mas tem que ter um contexto diferente sabe? 😆
      Muito obrigada pela inspiração 😁

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    2. Que demais, é tão legal saber que essa história foi inspirada pelo pesadelo de alguém! E está de parabéns, Ravena. Adorei a sua escrita \(^-^)/

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    3. Obrigado Milena por ler meu texto 🤠 Tentei dar um sentido ao pesadelo da minha prima. Acho que ficou bom. 😄

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