Full width home advertisement

Post Page Advertisement [Top]

Tenha a certeza de ter lido o capítulo anterior antes de ler este conto.


Lembra-se de mim agora? Irmão.

- Irmão? (esse rosto, eu conheço essa garota!?)... Irmão? Eu... Eu... A minha filha, me dê a minha filha sua - 

- Você tem que se lembrar. Se lembre – disse a garota enquanto entregava minha filha para mim.

Eu estiquei meus braços e a peguei, mas antes que pudesse abraça-la a garota a minha frente proferiu mais algumas palavras:

Você vai pagar!

Minha filha se dissolveu em sangue em meus braços. Meus olhos arregalaram, meu coração disparou e tudo escureceu. A luz do poste tinha se apagado, mas, falhando, voltou a acender e muitas outras também acenderam, revelando a mim o que eu havia esquecido há muito tempo. 

Meus braços onde estava minha filha não pareciam ser meus, mas eram. Estavam cheios de sangue, minha roupa... eu estava de pijama e pés descalços, esfolados. Eu olhei para a garota... Eu podia ver ela claramente... 

- Anna?

Ela sorriu para mim. 

Esse lugar... eu conheço esse lugar... Nós brincávamos aqui quando eramos crianças. Criança? Eu olhei novamente para meus braços e depois para o resto de meu corpo. Eu... eu era criança novamente... com as roupas daquela noite...

VOCÊ VAI PAGAR IRMÃO...

Anna virou as costas para mim e desapareceu numa explosão de luz que me cegou. Esfreguei os olhos e eu estava lá, parado em frente a sua cama. Ela estava deitada, dormindo. Minhas mãos lentamente aproximaram-se do seu pescoço e o envolveram, apertando. 

NÃO! NÃO! Eu não quero fazer isso! Porquê não consigo parar? Porquê não consigo controlar o meu corpo?! Eu não posso ver isso, não posso ver isso. Meu Deus, o que estou fazendo? 

Anna se debatia e tentava lutar, mas eu era mais forte. Pude ver pela fraca luz que entrava pela janela o brilho nos seus olhos desaparecer. Pouco depois de tanto lutar ela parou, lentamente, e não se mexeu mais. 

Eu ouvia minha respiração acelerada, meu coração disparado. Eu pude sentir que eu queria mais. E então, continuei a me lembrar daquele dia. Foi tudo planejado? 

Uma faca. Tirei de debaixo da minha cama uma faca. Caminhei até a porta do quarto, respirei fundo e me acalmei naquele instante, controlei minha respiração. Abri a porta lentamente, saí do quarto e depois encostei a porta novamente. Caminhei pelo corredor em direção ao quarto da mamãe. 

Eu não acredito que estava vivendo aquilo de novo. Como pude esquecer disso? Como pude fazer uma coisa dessas?! 

Finalmente cheguei ao quarto. Mamãe estava deitada na cama. Eu me aproximei. Ela dormia graciosamente. Me aproximei dela e dei um beijo em seu rosto. Ela sorriu. 

Agarrei o seu cabelo com minha mão pequena e puxei sua cabeça para trás. Seus olhos abriram antes que eu pudesse golpeá-la, mas já era tarde. Senti a faca correr em seu pescoço, ela se debateu um pouco e sangue jorrou para todos os lados. Ela não podia falar. Apenas alguns sons e grunhidos afogados em seu próprio sangue. E eu fiquei lá, assistindo. 

Até que ela parou de se mexer. 

POR FAVOR, PARE. EU NÃO AGUENTO MAIS ISSO. NÃO AGUENTO. 

Essas lembranças, eu não quero mais ver isso. Por favor, irmã, Anna, volte e me tire desse pesadelo. Por favor, Deus! 

Eu me virei. Caminhei lentamente do quarto da mamãe pelo corredor em direção a sala. Eu balançava aquela faca, fazendo espirros de sangue para todos os lados. E então, lá estava ele. Meu pai. 

Ele estava deitado no sofá. Dormindo também. 

Me aproximei dele, parei a sua frente, posicionei lentamente a faca na direção de seu coração e empurrei com força. Ele deu um pulo na hora, mas não caiu do sofá. Apenas virou seu rosto e me olhou de um jeito... Como se não acreditasse no que estava vendo, e sua face entristeceu, tossiu sangue e se debateu um pouco, estendeu a mão em direção ao meu rosto e tentou dizer algo que eu não pude ouvir. 

E tossiu uma vez mais, fazendo sangue voar em meu rosto. 

Eu me virei. Meu coração e respiração disparados. Caminhei até a porta de entrada, abri, olhei para a estrada e, do jeito que estava, saí correndo pela rua escura. Corri, corri e corri mais ainda. 

E então, lá estava eu, na porta da casa dos Mirtle. O som da pancada da primeira batida ecoou em minha cabeça e tudo começou a girar, e cada vez mais rápido a cada nova batida e então, uma vez mais, tudo escureceu. Eu abri os olhos e pude ver... eu ainda era criança. Um pouco mais velho que antes, na minha outra família.

- “Bom dia mãe, tudo bem?”
- “Tudo filho, e você? Como foi o dia na aula?”

- “Estou bem também e até que foi bom. Cadê o pai?”
- “Acho que está na varanda trocando a lampada que pedi faz umas duas semanas”

Dei as costas para minha mãe e, enquanto eu andava pelo corredor indo em direção ao meu quarto pude ver, ali fora na varanda, em cima de uma escada trocando o que parecia ser a lâmpada, meu pai. Ele estava de costas para mim, eu me aproximei sorrateiramente e o empurrei de lá. 

Alguns segundos e pude ouvir o impacto de seu corpo lá em baixo. 

- PAAAAAAAAAAAAAAAAIIIIIIIIII!!! - eu gritei e tudo começou a girar outra vez.

Agora eu estava caminhando ao lado de minha mãe, o sinal estava prestes a fechar quando íamos atravessar uma das ruas principais, eu parei, olhando para minha esquerda... Mais uma vez fui atingido por aquela estranha sensação...

Droga, eu vou fazer de novo.

...até ver um ônibus vindo em alta velocidade. 

Eu empurrei minha mãe. 

Pude ver tudo ficar manchado de vermelho e o som dos pneus atritando com o asfalto e esmagando o corpo dela. 

O som das portas do ônibus se abrindo ecoou em minha cabeça uma vez mais e tudo girou outra vez. 

Eu era adulto novamente. Estava caminhando no escuro em direção a cozinha de minha casa. Abri a gaveta do guarda louças e tirei uma faca de lá. 

Vai acontecer de novo. 

Voltei para o quarto onde Bianca estava dormindo. Puxei as cobertas com força fazendo ela acordar.

- Meu Deus Matheus, o que você está fazendo?
- EU VOU MATAR A GAROTA E VOCÊ VAI VER ISSO ACONTECER, E DEPOIS, EU MATO VOCÊ.

- Matheus? Amor você tá me assus-

Eu voei para cima dela e a golpeei na barriga. Apertei forte seu pescoço e mantive a faca pressionada. Sangue saía para todo lado, ela se debatia mas não muito e nem por muito tempo. 

Eu puxei a faca e abri seu ventre. Tirei a criança de lá e chacoalhei o corpo de Bianca para que ela acordasse, e acordou. 

EU NÃO POSSO FAZER ISSO, MEU DEUS, POR FAVOR, NÃO ME DEIXE FAZER ISSO. EU TENHO QUE PARAR, EU TENHO QUE PARAR. PARA, PARA, PARA, JÁ CHEGA, EU NÃO POSSO SUPORTAR, EU NÃO POSSO SUPORTAR. SENHOR, POR FAVOR, TENHA PIEDADE DE MINHA FILHA.

- Irmão?
- Anna?

Tudo estava parado. Apenas Anna envolta em luz apareceu ao meu lado. 

- Já chega irmão. Você tem que pagar.
- Eu aceito, só não me deixe tirar a vida de minha própria filha, por favor.

Outra vez ela desapareceu num clarão de luz e tudo continuou a acontecer, mas agora estava diferente. Eu... eu podia controlar meu corpo. O meu celular... ele estava no meu bolso. 

1... 9... 0...

Entreguei nossa filha e o celular a minha mulher e me afastei. 

Agora eu não podia mais me mexer, não podia mais falar, não podia fazer mais nada. Só agradecer a Anna por ter poupado a vida de minha filha... 



---

Pessoal, esse foi o fim da série, no entanto, Meu Pesadelo Acordou Para a Realidade possui alguns contos extras, que auxiliam na compreensão da história. São eles: 


Aproveitem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O NEA agradece o seu contato, responderemos em breve!

Continue navegando pelo nosso blog e conheça nossas redes sociais
--------
https://www.facebook.com/naoentreaqui.blogspot
-------
https://www.instagram.com/nea.ofc/

Bottom Ad [Post Page]